Por estes dias, pelo menos a Igreja católica, celebra a festa do Pentecostes. Não é um evento a mais no calendário, porquanto a define enquanto tal e a faz refletir sobre si mesma, o que se reveste de extrema importância nos tempos que vivemos. Hoje, mais do que nunca, necessário se torna que as razões de ser do que se é e do que se faz, venham à luz e se imponham como definidoras e motivadoras para a Instituição. O Papa Francisco no seu processo de restauração da Igreja, tem apelado essencialmente para um retorno às origens, em busca dos verdadeiros critérios que a devem orientar, galgando as montanhas e desfiladeiros que chamamos de futuro! Sem o resgate da sua génesis, a Igreja se perderá em penduricalhos inócuos, cansativos e estéreis. Francisco combate a autorreferencialidade, que a seu ver, adoece a Igreja.

O Evangelho de João faz questão de nos mostrar uma comunidade medrosa, fechada sobre si mesma e condenada ao fracasso, transformando-se quiçá num gueto judaizante, não fosse a ação do Espírito. É Ele que permite aos crentes superar o medo e as limitações e dar testemunho no mundo, desse amor que Jesus viveu até às últimas consequências. Segundo Paulo, o Espírito é a fonte de onde brota a vida da Igreja, concede os dons que enriquecem a comunidade e fomenta a unidade de todos os membros; por isso, esses dons não podem ser usados para benefício pessoal, mas devem ser postos ao serviço de todos.

O episódio espetacular descrito por Lucas nos Atos dos Apóstolos, (At 2) também se reveste de extrema importância, uma vez que revela uma das qualidades maiores do cristianismo: a sua universalidade e o que isso significa. O autor fala que os discípulos começaram a falar em outras línguas e que inúmeros povos que estavam representados em Jerusalém, assim os entendiam. Por óbvio, que este episódio nos lembrará de outro (infeliz) que encontramos no livro do Génesis! A Torre de Babel (Gn 11). Lá, os homens passaram a não se entender! Até hoje, esse termo é usado para descrever confusão e caos! Ali, os homens escolheram o orgulho, a ambição desmedida que conduziu à separação e ao desentendimento; no Pentecostes, regressa-se à unidade, à relação, à construção de uma comunidade capaz do diálogo, do entendimento, da comunicação.

Neste evento surge uma humanidade unida, reconciliada pela partilha de uma mesma experiência interior, fonte de liberdade e de amor. A comunidade dos que professam o nome de Jesus deve traduzir um Deus que modifica radicalmente as relações humanas levando à partilha, à reconciliação e ao amor. Assim, entendemos que o resgate das suas origens ontológicas seja imprescindível para a manutenção da Igreja enquanto tal. Não somos uma ONG, nem uma Instituição de caridade que em muitas oportunidades substituiu o Governo! Somos a família de Jesus, animada pelo Espírito com a missão de criar uma nova humanidade, onde “todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10.10).

O Espírito é a alma da Igreja. O termo vem no latim “anima” que evidentemente nos remete para animação! Uma Igreja animada pelo Espírito, com coragem e ânimo para dar testemunho! Quando completei 25 anos de sacerdócio, o pastor Messias que ali se encontrava, me dizia: “Manuel! Evangelize! Se necessário for, use a palavra”! Ele remetia-se a Francisco de Assis autor dessa frase! Porém, a intuição do “poverino de Assis” mantém-se atual até hoje! A missão está no testemunho, muito mais do que na verborreia! O mundo atual precisa do perfume de Cristo e do odor da eternidade. Se os seus seguidores, forem capazes de contrariar a lógica mundana e apresentar a Vida em Cristo como alternativa consistente, já estão fazendo jus ao seu nome.

Padre Manuel Joaquim R. dos Santos, Arquidiocese de Londrina

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