ESPAÇO ABERTO: A fome e a campanha da fraternidade
PUBLICAÇÃO
quarta-feira, 01 de março de 2023
Adalberto Baccarin
Como sempre faço , tentei fazer a leitura do Espaço Aberto, já que quando o faz, sempre admiro os textos assinados pelo padre Manoel Joaquim, mesmo não concordando totalmente com tudo que ele manifesta . Mas no dia 23 de fevereiro não cheguei ao final. Não o fiz pois já na nona linha me deparei com uma distorção absurda da realidade e com uma narrativa que não me parece ser confiável ou esclarecedora ao leitor. Afirmar que “a fome estava erradicada no país. Mas voltou“ é uma falácia e uma obscenidade tão violenta que desqualifica quem afirma e minimiza a inteligência de quem lê.
O Brasil é um país de contrastes, nem sempre admiráveis, de desigualdades ímpares e isso não é surpresa para quem tem olhos abertos e ouvidos minimamente atentos. A fome é uma doença severa a ser tratada, mas não com os remédios prescritos pelas ideologias políticas que se apresentam e muito menos pelos doutores formados nas representativas universidades. É impressionante como tentar dominar as pessoas com palavras de efeito e narrativas fantasiosas se tornaram uma prática mundial, mas particularmente brasileira, que enoja todos que têm um mínimo de senso de ridículo e dois neurônios minimamente conectados.
Observem as diferentes abordagens sobre a Campanha da Fraternidade, feitas pelos Padres Rafael Solano (22/02 ) e Manoel Joaquim (23/02) e façam seus próprios juízos. Desprezar a inteligência de qualquer um dos dois é uma estupidez, mas é evidente perceber as diferentes motivações e objetivos de cada texto. Ser a terceira vez em que a Igreja Católica aborda o tema da fome na Campanha da Fraternidade é por si só um sinal forte de que ao longo dos anos, particularmente nos últimos 30 anos dominados pela mesma corrente política, não foram pródigos na solução do problema. Logo, ou a campanha não foi competente em seus objetivos ou nossos mandatários não fizeram o dever de casa ou nem tentaram. Mas quais os verdadeiros objetivos? Coletas, doações de dinheiro, criação de ONGS e Fundações, quais os efeitos diretos disso tudo?
Sabemos que em Londrina temos um quartel general ativo da Teologia da Libertação e das ideologias de esquerda que se reúnem nos porões da sede arquidiocesana e que seus ativistas não descansam. Sabemos dos seus métodos, objetivos e resultados. Será que lutar contra a fome significa fechar os olhos para a bandidagem generalizada, significa apoiar invasões de terras e propriedades particulares, significa minimizar os crimes contra a dignidade humana e a vida como o fazem a favor da Venezuela, Cuba, Nicarágua? Significa afrontar um agronegócio que alimenta milhões de pessoas, inclusive além das fronteiras do Brasil. Ah, mas os fazendeiros são ricos! Uma boa parte sim, trabalham pesado para isso, assim como pequenos produtores, professores, médicos, dentistas, advogados, lixeiros, açougueiros e todos os demais. Já dizia uma marchinha de Carnaval antiga: "Onde está o dinheiro, o gato comeu, o gato comeu e ninguém o viu, o gato fugiu. O seu paradeiro está no estrangeiro".
Combater a fome não deveria ser mote de qualquer campanha de Igreja ou partido, deve ser objetivo de vida de qualquer cidadão digno, cristão, muçulmanos, ateu ou agnóstico. Combater a fome não pode ser motivador político para atingir o poder. Combater a fome deve ser atitude diária, de qualquer cidadão descente aproveitando e multiplicando oportunidades, remunerando o que deve ser remunerado, ensinando o que deve ser ensinado sem rotulação de empregado ou patrão, de classe trabalhadora e classe dominante. Uma singela sugestão: vamos ler tudo, interpretar tudo, avaliar tudo que tentam nos vender, seja do lado direito, do esquerdo ou do centro, e não vamos colocar nosso suado dinheiro nas mãos de quem não merece nossa confiança . Contribua com trabalho, comida e oportunidade!
Adalberto Baccarin, cirurgião dentista, Londrina

