ESPAÇO ABERTO
PUBLICAÇÃO
segunda-feira, 17 de junho de 2013
Dom Orlando Brandes
Sem a comunidade ninguém sobrevive e a vida é simplesmente impossível. Comunidade é como uma mãe. Ela nos acolhe, educa, ajuda a crescer, oferece espaço, desperta valores. No seio da comunidade nós crescemos e sobrevivemos. Nascemos com o instinto de socialização. Sem os outros, perecemos.
O que é mesmo comunidade? Um agrupamento de pessoas com objetivos e metas claras. Não é mera coabitação. Na comunidade deve haver comunicação interpessoal, conhecimento mútuo, confiança e lealdade, participação e cooperação. Cresce no mundo moderno o individualismo e, com, isso a humanidade se desenvolve economicamente, mas empobrece em humanismo.
A comunidade é como um purgatório. Ela nos molda, corrige, aperfeiçoa. As exigências são benéficas. No fim do processo, percebemos que a comunidade é uma escola de vida, sem a qual não amadurecemos. São muitas as vantagens da comunidade. Antes de tudo ela é lugar de acolhimento, de aceitação dos diferentes, de tolerância das fraquezas e de entreajuda. É como um novo útero que nos recria.
Enquanto lugar de crescimento, a comunidade faz expandir nossas potencialidades, desperta criatividades, abre horizontes e ajuda a superar a desconfiança. Por outro lado, a aliança dos membros da comunidade os motiva a ser corresponsáveis, vivendo o espírito de filiação e pertença, pois um carrega os fardos do outro. Outra marca da comunidade é que ela é lugar de perdão. Sem o perdão não há convivência nem integração. A comunidade sobrevive graças à reconciliação.
Uma das mais belas características da comunidade está em ela ser lugar de comunicação e revelação de nós mesmos. Aparecem as limitações, os defeitos, e, por outro lado, cresce a partilha de vida, que possibilita nossa libertação, terapia e mudança de vida. A verdadeira comunidade é lugar de libertação do egoísmo, do isolamento, do fechamento, transforma-se numa autêntica família. Ela é lugar de comunhão e de recreação, de confraternização e de solidariedade.
A comunidade é semente de um mundo novo. E, melhor, é o embrião da nova sociedade, de um mundo de irmãos, do mundo como grande família, que chamamos de comunidade internacional, a globalização do amor. Quando a família, a empresa, a escola, o hospital, a igreja, a rua, o bairro, o condomínio se transformam em comunidade, em equipe, em grupo, descobrem um potencial inaudito de solução dos problemas. Descobrem que todos somos irmãos e que a fraternidade é possível.
A Doutrina Social Social da Igreja tem um capítulo especial sobre a comunidade política cuja norma essencial é o bem comum, o exercício dos direitos humanos, a dignidade da pessoa humana e a democracia. Nas comunidades primitivas, isto é, no início da Igreja, as pessoas eram unidas na fé, na oração, na partilha dos bens e no afeto. Eram um só coração e uma só alma. Não havia necessitados entre eles.
A fonte inspiradora da vida em comum é a comunidade divina, a Sua Santíssima Trindade. Deus mesmo é comunhão, é comunidade de pessoas, é família que cria o homem e a mulher à sua imagem e semelhança, ou seja, para que vivam em comunidade. O Concílio Vaticano 2º define a família como "comunidade de vida e de amor", célula da sociedade.
Nós temos como urgência pastoral a transformação da paróquia em "comunidade de comunidades", as chamadas pequenas comunidades que são os grupos bíblicos de reflexão. Nossos grupos são pequenas comunidades que se articulam e formam as comunidades eclesiais de base, o setor comunidade.
Percebemos que os grupos são o caminho certo para a experiência comunitária, a renovação da paróquia, a transformação da sociedade. Quem participa dos grupos e vive em comunidade torna-se um grande benfeitor da humanidade. A bússola da vida humana é a alteridade e o altruísmo. O centro nãos somos nós, mas os outros. O mandamento do amor torna possível a convivência em comunidade.
DOM ORLANDO BRANDES é arcebispo de Londrina
■ Os artigos devem conter dados do autor e ter no máximo 3.800 caracteres (55 linhas) e no mínimo 1.600 caracteres (25 linhas). Os artigos publicados não refletem necessariamente a opinião do jornal. E-mail: opiniao@folhadelondrina.com.br