Uma das características mais marcantes da história de Londrina é o desenvolvimento do setor da educação. Desde os seus primórdios, os imigrantes se organizaram em pequenos grupos escolares responsáveis pela educação das novas gerações. Em comum, a ideia de que uma educação de qualidade era indispensável para um futuro promissor de seus filhos e da cidade que ajudavam a criar.

Em 1931, três anos antes da criação do município de Londrina, imigrantes alemães instalaram a escola do Heimtal (atual Padre Anchieta), no que foram acompanhados quase simultaneamente por iniciativas de outras colônias, grupos e instituições religiosas.

Era o tempo de uma Londrina inusitada e épica: a terra de oportunidades localizada numa exuberante e poderosa mata de floresta atlântica, sendo desbravada por sonhadores que falavam dezenas de idiomas e que vieram de todas as partes do mundo, se conhecendo e conversando em esquinas ainda de barro e no comércio que se formava. É neste riquíssimo ambiente de diversidade cultural e de empreendedorismo que Londrina ganha em 1937 sua primeira escola pública (o grupo escolar Hugo Simas), que ajuda a consolidar a mistura de jeitos e costumes diferentes numa identidade londrinense e comum, tão importante à nossa história.

É de um momento posterior a este a criação do Instituto de Educação Infanto Juvenil (IEIJ), em 28 de janeiro de 1973, numa Londrina já prestes a completar 40 anos. O que a nova escola veio a preencher foi um espaço relacionado ao desenvolvimento das novas ciências e conhecimentos da área da educação que se consolidavam àquele tempo, tendo à frente os estudos e lições do epistemólogo da educação, Jean Piaget. Desenvolveu-se uma abordagem mais científica da educação, baseada em evidências, na autonomia de cada pessoa segundo suas próprias características e potencialidades; e no papel da escola como ambiente de enriquecimento das experiências educativas proporcionadas aos alunos.

Em uma cidade marcada pela valorização das diferenças, a proposta pedagógica encontrou terreno fértil, já que o grupo de pais e professores fundadores tinha ciência de que não há ambiente mais propício ao desenvolvimento humano e educacional do que o da diversidade. Vem daí uma política do IEIJ, vigente há 50 anos, que concede bolsas de estudo voluntariamente a fim de produzir um ambiente diverso capaz de estimular o conhecimento e criatividade de cada um. Para mediar este desafio faz-se necessário professores bem remunerados e que tenham tempo de dedicação e ambiente adequados para estudar e preparar as experiências de sala de aula – relacionadas a problemas e desafios, hipóteses e soluções, presentes no cotidiano dos alunos.

Ao colocar em funcionamento uma escola com esta pedagogia, outra característica marcante do IEIJ foi o pioneirismo em adotar uma estrutura cooperativa, gerida em comum por pais e professores. Por meio de eleições, pais e mães assumem os cargos de diretoria para administrar o dia a dia da escola, garantindo ao corpo técnico a autonomia e os investimentos necessários para o desenvolvimento da política pedagógica.

Hoje, percebe-se que o sucesso desta histórica empreitada se concretiza na formação de milhares de alunos desde então e na disseminação das ciências do conhecimento no sistema educacional de Londrina.

O fechamento de um ciclo de 50 anos neste 28 de fevereiro de 2023 representa uma homenagem ao profissionalismo e dedicação de todos que participaram da criação e desenvolvimento do IEIJ e, ao mesmo tempo, bases profundas para uma educação transformadora por mais cinco décadas – até 2073!

Antes de terminar esta homenagem, não posso deixar de citar alguns nomes: o da professora Luiza Leonor Cavazotti e Silva (minha mãe), idealizadora do IEIJ e sua coordenadora pedagógica por mais de 40 anos; de meu pai Lincoln Brazil e Silva, médico neurologista que se apaixonou com ela pelo estudo do cérebro e do conhecimento, apoiando-a incondicionalmente; do grupo de pais e professores fundadores que se lançaram numa aventura dedicada aos filhos que hoje completa 50 anos de ininterrupta atividade; e de todos os demais pais, mães, alunos, professores e funcionários que fizeram e fazem parte de sua história.

Fábio Cavazotti (ex-aluno e pai do IEIJ) é jornalista e secretário municipal de Gestão Pública de Londrina.