Minha mãe e meu pai de 87 e 88, respectivamente, moram num país em que o voto não é obrigatório. Porém, a cada dia de eleição lá estão eles logo cedo na porta de casa com a sua roupa “de missa”, para encararem o exercício do seu direito cívico! E do seu dever! Sorridentes, já apostam na vitória do seu candidato! Afinal, quem acha que não vai ganhar, já perdeu! Assim, por nada neste mundo eles deixam de participar dessa festança democrática que são as eleições! Quanta coisa eu aprendi com estes dois, que nunca passaram da quarta série, mas que são um abismo de sabedoria e resiliência! Minha mãe tem até opinião formada sobre a política brasileira! Mas não é o assunto deste artigo!

Há conquistas na história de um país, que não suportam retrocessos ou revisionismos. A redemocratização iniciada na década de oitenta do século passado é uma delas. Foram mais de vinte anos de ditadura, que entre direitos cassados, tortura, perseguição, fechamento do Congresso, cassação e aumento do número de ministros do STF, nos impediu de escolher livremente o partido e as pessoas que nos representariam. Muitos brasileiros nasceram e cresceram nesse período obscuro da nação e outros que nunca o estudaram direito sugerem certa aberrante nostalgia de um inferno a que chamam de paraíso. Se foi um tempo de exceção, em que todo o tipo de arbitrariedade foi cometido em nome da segurança nacional, que não interrompa nunca mais a normalidade institucional! A democracia veio para ficar, consagrada na Carta Magna, chamada de “Constituição Cidadã”.

Contudo, o chão do robustecimento muscular da democracia não é asfaltado! Se os passes de mágica se restringem ao cinema e aos contos infantis, eles não têm, pois, lugar quando se trata de manter e fortalecer um regime democrático. O cientista político Steven Levitsky (Ph.D pela Universidade da Califórnia, em Berkeley) é autor, junto com Daniel Ziblatt, de um dos livros mais comentados do momento, "How Democracies Die: What History Reveals About Our Future" (Penguin Random House, 2018). "Como morrem as democracias" nos ensina o que vem sendo reforçado pela tão surreal quanto disruptiva realidade do momento. Democracias acabam, sim! Já tive oportunidade de referir o diálogo do comandante do Titanic com o engenheiro construtor, em pleno naufrágio do então gigante dos mares. “O navio afundará”? Pergunta o capitão. Sim – disse o profissional – ele é de ferro e aço!

Pelo mundo afora, extremistas urrando como hordas de bárbaros vêm acuando o regime que no ano passado comandava a vida de 45% da população mundial, embora apenas 6.5% pudesse ser considerada uma “democracia plena”! Democracias ficam doentes e morrem. Sem canhões, nem desfiles militares caricatos e anacrônicos. Elas são devoradas por dentro e implodem! Sem dó e de difícil reversão, os fascistas travestidos de democratas levam para o esgoto totalitarista as várias Instituições, que tomadas de assalto e tendo sua alma devorada passam a ser hospedeiras de um vírus mortal.

Somos ainda a quarta democracia do mundo. Ela ficará de pé e se fortalecerá se assim o desejarmos. Votar não basta para que o regime funcione de forma plena. É necessário o acompanhamento do nosso voto e principalmente a participação nos vários moldes que a própria democracia nos faculta. É um processo que por óbvio não se reduz a uma etapa. Por conseguinte, a abstenção é uma omissão que pode ficar cara demais. E ela não é neutra! Não importa se o nosso candidato ficou para trás.

Num segundo turno, votar no projeto que se configure melhor ou menos danoso, impõe-se sobremaneira, inclusive em termos morais. A nossa Constituição, no seu artigo 14, inciso 2, parágrafo primeiro, faculta aos jovens de 16 e 17 anos a possibilidade de votar. Mas é com pesar, que vemos uma redução grande nos últimos anos. Se nas eleições municipais de 1992 tivemos 3 milhões e 200 mil, hoje não passam de 2 milhões e trinta mil! Portanto, clamo aos que pensam fazer do dia 30 mais um domingo de outubro: #PartiuVotar! A democracia agradece.

Padre Manuel Joaquim R. dos Santos, Arquidiocese de Londrina

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