Menino Deus: tenho certeza que as lágrimas do teu filho Francisco papa, no passado oito de dezembro, na praça Espanha quando celebrava uma das festas da tua mãe Maria; a ti também te comoveram. Não pelo fato de chorar, mas sim porque as suas lágrimas representam as nossas lágrimas. Na família de muitos de nós, ultimamente, as lágrimas são o sinal mais visível de um Natal como aquele primeiro em Belém. Famílias inteiras de refugiados, famílias da rua, famílias de condôminos e apartamentos onde não há nem proximidade nem união, países sob o controle autoritário de alguém que pensa que pode ocupar o teu lugar pela guerra e pela violência. As lágrimas de quem foi traído, de quem foi caluniado, ou simplesmente lhe foi negado o direito de ser.

Lágrimas que nos fazem repensar a nossa atitude arrogante é insensível num momento tão dramático como este da nossa história. Olhando para as lágrimas de Francisco na praça Espanha pensava nas lágrimas das famílias que diariamente passam fome! Num mundo industrializado e técnico, milhares de pessoas sofrem o pior dos flagelos em quanto outros temos até de sobra. Lágrimas por causa de uma economia cada vez mais manipuladora; pelos altos juros dos empréstimos e pelas altas taxas que empresários e funcionários devem pagar.

Aquelas lágrimas da praça Espanha me fizeram repensar o texto da Fratelli Tutti; carta escrita pelo próprio papa Francisco onde afirma: “Existem simplesmente dois tipos de pessoas: aquelas que cuidam do sofrimento e aquelas que passam ao largo”. FT(70).

Temos que nos preocupar uns pelos outros e não fazer de conta que ir até os outros é algo impossível. Precisamos lembrar que por trás de cada lágrima se enxerga o futuro doloroso da Ucrânia e Lampedusa, da Eritreia e do Congo; da América Latina e Dinamarca. Não existem lugares da terra onde o ser humano tenha-se esquecido do seu irmão e temos que ir até la.

Não se faz demagogia com a dor humano e não se faz da dor uma proposta política para alcançar adeptos; não se pode ver o outro sofrer e ficar simplesmente apoltronado no ambiente cômodo da minha vida.

As lágrimas de Francisco são as nossas lágrimas neste Natal de quem tem síndrome do pânico, de quem a ansiedade o acaba e condena; de quem a depressão e os medos o consomem; ou mesmo de quem se sentindo psicologicamente sadio se sente agredido e humilhado. São as lágrimas do divorciado e desquitando, do abandonado…

Menino Deus, as lágrimas do teu Vigário na terra são as lágrimas de todos e todas os que vos suplicamos para que neste Natal venhas e não atrases tanto!

Rafael Solano é sacerdote da Arquidiocese de Londrina