A Villa Japoneza (1920) em Cambará comemora 102 anos. Foi o primeiro Núcleo Colonial fundado por imigrantes japoneses, colonos independentes, no Norte do Paraná.

O local foi formado inicialmente por onze famílias que haviam trabalhado em fazendas de café. Por último, na vizinha propriedade de Barbosa Ferraz. Tinham cumprido anos de contrato trabalhando como colonos em condições muito difíceis, segundo depoimentos.

Duzentos alqueires de áreas planas no vale do ribeirão Alambari foram adquiridos por um grupo liderado por B. Koga. Terras de posse anterior de Lindolpho Dantas e Henrique Lombardo. Ficava a meio caminho entre Cambará e o rio Paranapanema, afastado da estrada principal e da ferrovia. Afirma-se que as terras foram compradas sem levantamento detalhado, o que resultou em partes sujeita a geadas.

Fato pouco conhecido até hoje é que, em 1921, burocratas do Consulado Geral do Japão em São Paulo fizeram uma visita a fazendas ao longo da Estrada de Ferro Sorocabana. Na estação Ourinhos passaram pelas fazendas Barbosa, Ourinhos, União e a Colônia Villa Japoneza. Produziram um detalhado Relatório de Visitas. A Villa Japoneza havia atraído a atenção dos burocratas. Viam ali um modelo possível de “Núcleo Colonial – Shokuminchi”.

Sobre a Villa Japoneza constava no relatório dados como: nome de proprietários de terras, o ano de desembarque no Brasil, a profissão, a área da propriedade e a respectiva produção agrícola. Um resumo de dados da visita permite apreender que, os imigrantes vieram ao Brasil entre 1912-13, os lotes tinham entre 4 e 12 alqueires, sendo o maior com 32 alqueires e a composição familiar de 4 a 12 membros. Segundo a indicação de profissão, quase todos eram agricultores. Plantavam café. Havia um professor no grupo. Este último, não proprietário de terras. A maioria era da província de Fukuoka, região de dialeto peculiar no Sul do Japão. Tal fato fortalecia a união do grupo.

Uma Planta Cadastral de Cambará (1936) mostra a ocupação dos pequenos vales de afluentes da margem esquerda do rio Paranapanema. A meia distância entre a ferrovia e o Paranapanema é possível identificar várias colônias. Obedeciam a cláusulas do Decreto de Colonização do Paraná (1907). Conjuntos de lotes de frente estreita dispostos em forma de espinha de peixe. Tem como eixo as linhas Norte Sul resultantes da subdivisão de terras de posse. A Colônia Villa Japoneza seguia assim, o padrão da região.

Fiz várias expedições ao local. Saindo da BR 369 em Cambará, sigo uma estrada que inicia ao lado de uma indústria de alimentos. Um longo caminho rumo ao Norte, através do asfalto. Logo surge uma estreita estrada de terra. Atravessa um grande vale de leves ondulações. As marcas de um antigo campo de pouso em diagonal é o início da Villa Japoneza. Um observador atento poderá reconhecer o grande platô. Em alguns momentos, à esquerda, é possível visualizar o rio Alambari.

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Sete anos atrás levei alguns pioneiros à Villa Japoneza. Não tinham retornado ao local havia 25, 50 e até 75 anos. Apesar disso, todos conseguiam interpretar, à sua maneira, os remanescentes da paisagem da memória. A vida em comunidade, as mangueiras marcando o local das casas, a estratégica localização da Escola e Kaikan, o campo de beisebol e o time forte que trazia as iniciais VJ no uniforme.

Todo imigrante japonês carrega consigo várias “Terra Natal – Furusato”. A primeira, o local onde nasceu. A segunda, o navio de vinda ao Brasil. Por último, a Villa Japoneza e cada uma das centenas de Núcleos Coloniais Shokuminchi que foram constituídos no interior do Paraná e São Paulo.

Entardece. Do alto da estrada da Villa Japoneza é possível ver ao longe as luzes de Cambará. Momento da última foto e da visada panorâmica sobre o vale. A retornar breve.

Humberto Yamaki é coordenador do LabPaisagem da UEL (Universidade Estadual de Londrina)