Há poucos dias, uma nota falsa assinada pela Google, Twitter, Meta Facebook, Spotify etc. ameaçava suspender as suas atividades no Brasil dia 4 de Julho próximo. Razão: o Brasil, estaria cerceando a democracia impedindo a liberdade de expressão! E isso é claro, seria inconcebível para as Big Techs, que se arvoram em paladinas da democracia da informação! A notícia é fake, mas não impediu que milhões de usuários do WhatsApp a retransmitissem! De forma reconhecidamente aceitável, afirmam que com a ampliação do uso das redes sociais, é comum que um número maior de indivíduos tenha acesso às informações e notícias provenientes de diversas fontes e perspectivas, permitindo que vozes e opiniões até então ignoradas pelos meios de comunicação tradicionais, passem a contribuir para a produção e disseminação de informações, o que, por sua vez, torna o processo mais democrático. Não existem dúvidas quanto a este fato, como também concordamos que em países de regime totalitário, devemos a essas mídias, a lufada de ar que mantém respirando, os que vivem oprimidos pela falta de informação ou subjugados por informações alienatórias e controladas. Tudo certo! Porém, a nota é falsa! A questão, portanto, que se coloca atualmente no nosso país entra, no rol da falsificação e manipulação da própria argumentação, levando os incautos a crer em primeiro lugar, que existem vítimas indefesas e em seguida a acreditarem que valores inalienáveis da sociedade democrática estão sendo vilipendiados! O PL 2630/20 é mais do que necessário. Se o Google fixou na página inicial do seu buscador um link para um conteúdo contrário ao projeto na segunda-feira 01/05, véspera da data prevista para a votação da matéria, é indício de que o Brasil está no caminho certo! Países democratas precisam se proteger dessas plataformas milionárias. O antídoto para a pseudoliberdade de expressão por elas defendida, é um antibiótico legal em forma de regulamentação, que está tomando forma em vários países livres!

O Brasil experimentou nos últimos quatro anos, a fúria destruidora de uma internet a serviço do ódio e das ideias extremistas e negacionistas da extrema direita! O fascismo, o nazismo, a xenofobia e o racismo, correram por essas veias, como vírus mortais para o regime democrático e o próprio

Estado de Direito. Eleições foram ganhas tendo a internet podre como protagonista! Famílias se destruíram, amigos se afastaram, políticos bons foram enxovalhados e até a própria religião, foi contaminada pela seiva mortal que determinava as fakes do momento, em forma de verdades, impostas pela truculência de quem descobriu nas Redes Sociais a arma de destruição em massa mais apropriada!

O Brasil, que as grandes plataformas da internet criticam por tentar “arrumar a casa”, enfrenta dentro do Congresso Nacional, muitos deputados bem articulados, em manter a internet fio condutor da barbárie! Nenhum leitor da Folha ignora os vários lobbys que assessoram os parlamentares. Aqui no Brasil, chamamo-los de “bancadas”! Bancada da Bíblia, Bancada da bala, bancada do agro, e porque não, bancada das big Techs? Os interesses que envolvem a apelidada liberdade de expressão, tão bem manifestados em artigos e ameaças, correspondem a uma apologia do crime! A extrema direita mundial, descobriu com o advento da Segunda Guerra e a ascensão de Mussolini e Hitler ao poder, como panfletos, jornais, programas de Rádio e mentiras propagadas à exaustão, gerando terror na população, tornavam-se a porta de entrada para regimes totalitários e aí sim, inibidores de qualquer liberdade, inclusive a de expressão! A história do pós Primeira Guerra Mundial, que inclusive coincidiu com a grande pandemia da “Gripe Espanhola”, ilumina de forma perentória o atual momento de ascensão de forças malignas já identificadas!

Se a liberdade de expressão fosse um valor absoluto, não existiriam crimes como injúria, difamação e calúnia! A democracia não existe sem esse valor; contudo, ao se voltar contra ela, flerta com o crime e, portanto, com a punição!

Padre Manuel Joaquim R. dos Santos. Arquidiocese de Londrina