É prematuro demais definir traços, estabelecer formas e conceitos definidos, entretanto não é tarde para pensar, planejar para imaginarmos que outros conceitos outras práticas que ganharão com o tempo visibilidade em escala local, regional e global, e que essas práticas sejam adequadas para nos conduzir a outro estágio civilizatório. Um estágio compreensivo, solidário, cuidadoso e de alto teor de pertença e preservação da Terra e de tudo o que vive nela.

Eric Hobbsbaw, em sua obra “A era dos Extremos” destaca na última página: “O futuro não pode ser uma continuação do passado, e há sinais, tanto externamente quanto internamente, de que chegamos a um ponto de crise histórica. Nosso mundo corre o risco de explosão e implosão. Não sabemos para onde estamos indo. Só sabemos que a história nos trouxe até este ponto... Se tentarmos construir o terceiro milênio nesta base vamos fracassar... e o preço do fracasso, ou seja a alternativa para uma mudança de sociedade, é a escuridão.”

Fritjof Capra, um pesquisador reconhecido no mundo todo, no seu livro “As conexões Ocultas – Ciência para uma vida sustentável” em sua conclusão afirma: “A verdade que a transição para um mundo sustentável não será tarefa fácil. Mudanças graduais não serão suficientes para virar o jogo; vamos precisar também de algumas grandes revoluções. A tarefa parece sobre-humana, mas, na verdade, não é impossível.”

Imagem ilustrativa da imagem ESPAÇO ABERTO - Tempo de pensar, planejar
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Tudo indica que vivemos, em nosso tempo, um ensaio de um fim civilizatório. Pois este, em curso, não tem muito mais a oferecer, todas as suas alternativas evidenciam o seu esgotamento. Cabe a nós apressar o novo ensaio para que ele não seja apenas experimental, local de baixa escala, mas que ganhe contornos globais, sem as determinações únicas. Estamos vivendo o início de construção de um discurso e prática civilizatória que compreenda a relação finita e cuidadosa entre a cultura (ato, ação humana) e a natureza (meio ambiente).

Nessa transição estamos envoltos de uma força interna paradoxal: Por um lado, ela nos impulsiona para seguirmos sua lógica destrutiva, ingressamos num terreno pantanoso e escuro, marcado pelo medo e pela agonia dos seres vivos, inclusive e, sobretudo, pela nossa espécie. Por outro, a construção de um novo processo civilizatório (cultura, economia, sociabilidade) envolve a reconstrução do objeto de conhecimento pela conjunção de diferentes áreas do saber, com um desafio enorme.

Trata-se de refundar um saber sobre as bases culturais e ecológicas que gere outros meios, necessidades, desejos, aspirações – ou seja, a transição para este novo saber sustentável implica numa desconstrução da economia antiecológica e antropizante que não tem saída, já apresentou suas garras destrutivas. E desta forma, podemos e devemos pensar ideias, valores, comportamentos muito diferentes dos que foram postos tanto no âmbito ambiental quanto na esfera cultural.

Paulo Bassani é sociólogo, ensaísta, palestrante e professor universitário.

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