ESPAÇO ABERTO - Somos importantes?
PUBLICAÇÃO
sexta-feira, 07 de maio de 2021
Alessandra Lourenço Cecchini Armani
Desde a declaração da pandemia de Covid-19, em 11 de março de 2020, ouvimos exaustivamente que devemos pautar nossas atitudes preventivas e curativas, desta pandemia, na ciência. A importância da ciência adquiriu uma visibilidade nunca vista. E o cientista é importante? Vocês já pararam para pensar na ciência que fazemos?
A palavra CIÊNCIA dita desta forma parece algo tão inatingível, algo longe e que chega a nós apenas nos momentos cruciais de nossas vidas por exemplo, para recebermos vacina, para compreendermos o modo de transmissão, para estabelecermos a terapia. Parece tudo pronto.
Metaforicamente, é como imaginar que laranja cresce na banca de supermercado. Não vemos o trabalho árduo, difícil, cheio de tropeços, muitas vezes perigoso que está por trás da busca da compreensão, prevenção, desenvolvimento de novas terapias e tratamento da doença. Digo que a ciência está mais perto de você do que você imagina.
A Universidade Estadual de Londrina conta com mais de 40 programas de pós-graduação com centenas de pesquisadores (entre alunos e professores) que desenvolvem ciência de qualidade; orgulho para todo londrinense. Essa ciência que é feita dentro da universidade ultrapassa os muros da academia e chega sob a forma de conhecimento ou produto para a melhoria de vida do cidadão e desenvolvimento do país.
Na grande maioria das vezes as pessoas não conhecem a dialética científica, as dificuldades e a luta do cientista para produzir um conhecimento novo ou um produto, mas, com certeza veio do trabalho desenvolvido com rigor científico.
Desde o início da pandemia em 2020, dezenas de laboratórios da Universidade Estadual de Londrina têm se dedicado a pesquisar e produzir resultados baseados em evidências experimentais que vão contribuir com a compreensão e tratamento da Covid-19. Trabalhos esses que envolvem entrar em contato com o paciente, convidá-lo a participar da pesquisa, muitas vezes tirar sangue ou examiná-lo. Tudo isso para que os cientistas possam entender melhor essa doença que tem evoluções tão diferentes, desde a cura até o óbito.
Esses cientistas e alunos de pós-graduação da Universidade Estadual de Londrina, a despeito de correrem o risco de contraírem a doença, continuam a pesquisar com o único propósito de contribuir para a compreensão da evolução da doença e ajudar a debelar esse mal que tem trazido tanto sofrimento e perdas humanas.
O mais cruel dessa história é a falta de reconhecimento das autoridades na necessidade de protegê-los. Esses cientistas trabalham e se arriscam sem terem direito a vacina. Não são considerados grupo de risco, mas convivem diariamente com pacientes ou o sangue ou ainda secreções desses pacientes contaminados. Mesmo assim, nenhum cientista quer parar sua pesquisa na esperança de poder contribuir, de alguma forma, na solução desta grave doença.
Esta carta é um apelo à secretaria da Saúde do Município de Londrina para considerarem os cientistas (alunos e professores) da Universidade Estadual de Londrina grupo de risco, para que possam receber a vacina contra Covid-19. Estamos trabalhando com medo!
Alessandra Lourenço Cecchini Armani, professora de Patologia Geral e Pesquisadora da Pós-graduação em Patologia Experimental da UEL (Universidade Estadual de Londrina)