Ser professor é mais que uma opção. Sentada nas cadeirinhas de uma escola pública, em São Paulo, me lembro do sentimento de respeito e apreço pela professora que me pedia para repetir o traçado da letra “A”, “uma embaixo da outra”, “bem redondinha”. Eu devia me esforçar, dizia ela. E eu nem sabia por que isso era tão importante, mas também não importava muito pois a sua validação depois da conquista era mais que gratificante. Mas, caso eu não correspondesse às suas expectativas, tudo seria apagado para que um novo recomeço acontecesse... Agora “do jeito certo”. Aprendi a persistir, mesmo sentindo-me frustrada E crescendo um pouquinho passei para os bancos da escola, agora já da rede privada, que estabelecia uma distância intransponível entre o professor e o aluno. Inacreditavelmente, o respeito e o apreço por meus professores continuavam inabalados. O conhecimento me encantava, a sabedoria que cada um deles, a seu modo, me mostrava rotas de liberdade. Aprendi que as conquistas só vêm pelo esforço, pela honra de lutar pelo bem comum, pela verdade que desnuda os vaidosos e farsantes. A sociedade mudava em sofreguidão; "ter" foi se tornando um verbo só no imperativo, nas diretrizes das vidas das pessoas, e os professores se tornavam “facilitadores”, “dadores de aula”, “mediadores” e “gestores”.

E eu continuava a sentir orgulho, apreço e respeito pela escolha profissional de cada um deles. Aprendi até a rezar pela vida deles! Aprender era conhecer a mim mesma e descobrir-me capaz de superar os desafios e as incertezas. Na proximidade com a paixão de educar que os movia, aprendi a amar as inter-relações que mobilizam uma sala de aula, a me sentir, efetivamente, corresponsável pelo emergir de potencialidades, pela construção de sonhos, pela beleza que há em cada história de vida, que senta, ainda em carteiras enfileiradas, ávidas por tornar realidade seus sonhos. Parabéns, todos os dias, a todos que escolheram viver como professor, num momento em que tantos se distanciam da sabedoria, da generosidade, e mergulham na liquidez dos modismos.

Gratidão é o sentimento que me fortalece nesses momentos em que se reinventar, se adaptar às necessidades mundiais que nos são impostas, alheias aos nossos desejos e anseios, torna o professor ainda mais importante. Nossos professores, nossos” jequitibás” como diria Rubem Alves, têm se mantido firmes, acolhedores e leais aos princípios que regem a educação para a superação, com dignidade e alegria, do hoje que habita o dia a dia. Gratidão ao empenho, dedicação e superação de cada um, do seu jeito, em seu coração de educador, em sua alma de professor, em suas ações especiais, que só podem brotar da sensibilidade dos jequitibás. Tudo passa, tudo se transforma, quando o futuro nos pega pela mão e nos mostra que Deus cuida dos detalhes, porque de muitas formas nos faz fortes, esperançosos, determinados para vencer qualquer batalha. Que a alegria de ensinar seja sempre a alma da sala de aula onde se encontrem

Zuleika Camargo Leite de Toledo (pedagoga/neuropsicopedagoga) Londrina