A Folha de Londrina, na edição do dia último dia 03, abordou a insegurança alimentar no Brasil e o perigo que isso representa para o desenvolvimento neurológico das crianças. No Espaço Aberto desse dia, o professor Luís Miguel, exímio conhecedor e apaixonado pelas questões sociais que envolvem as causas desta tragédia, abordava também o assunto, sempre oportuno, da aporofobia! Também nesse mesmo dia, conversei longamente com professores de uma escola secundária da região onde moro e fiquei estarrecido com a gravidade da situação. É muito pior do que o leitor possa imaginar! Estamos forjando sub cidadãos, filhos da subnutrição e do consequente desapreço pelo estudo!

Vamos às nuances envolvidas nesta conjuntura.

Há anos, afirmou-se que a grande “tacada brasileira” foi associar a escola à alimentação dos alunos. Ninguém hoje duvida da excelência dessa política pública, que de motivação para aprender, virou combate à fome e à desnutrição. Era esse de fato o objetivo primeiro! É corriqueiro alguns alunos levarem marmita para os pais e irmãos menores, em casa!

Os números apresentados por este jornal na edição mencionada são o infeliz retrato do panorama infanto-juvenil brasileiro. Coloquemos, agora, a tampa do caixão deste drama: Na pandemia, as crianças ficaram em casa! Sem escola e sem alimentação! A vulnerabilidade da criança em casa não se reduz, por óbvio, à insuficiência alimentar, embora esta afete todas as dimensões.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou um estudo indicando que assistir TV em excesso pode causar declínio cognitivo e redução da massa cinzenta. Se em 2015, o Ibope constatou que crianças e adolescentes no Brasil estavam passando cerca de 5h35 por dia na frente da TV, quase uma hora a mais do que dez anos antes, imaginemos os números da próxima pesquisa que envolverão a pandemia! Essa “telinha” atende agora também, pelo nome de iPads, iPhones, tablets e outros aparelhos!

Mas o caldo continua sendo engrossado: uma pesquisa norte-americana mostra que o aumento de exposição das crianças a essas telinhas, além de nocivo a elas próprias, também prejudicaria os seus pais, que ficariam mais estressados! Segundo especialistas, há outras preocupações. Oscilações de humor, problemas financeiros, estresses no trabalho. Todos esses cenários familiares podem ter acontecido durante esse período e as crianças tendem a processar e responder essas situações de forma diferente. Tanto porque não estão preparadas ainda para racionalizar essas questões, como também já estavam expostas a um ambiente de medo e estresse, causados pela consciência da existência do vírus da Covid-19.

Os mesmos estudiosos lembram-nos que é preciso olhar com atenção e cuidado para as crianças que ficaram mais vulneráveis não somente a questões emocionais, mas também às ambientais, como o aumento considerável de tempo de exposição às telas. O isolamento da criança pode evoluir do físico para o emocional. Tendência à irritabilidade, alterações repentinas no próprio apetite, oscilação do humor, entre outros, como medos, ansiedade e transtornos de sono. A Unimed Brasil fez bons estudos sobre estas questões.

A Unicef vai mais longe! Crianças, adolescentes e jovens poderão sentir o impacto da Covid-19 em sua saúde mental e bem-estar por muitos anos. Segundo dados dessa organização, calcula-se que, globalmente, mais de um em cada sete meninos e meninas com idade entre 10 e 19 anos viva com algum transtorno mental diagnosticado. Quase 46 mil adolescentes morrem por suicídio a cada ano, uma das cinco principais causas de morte nessa faixa etária. Enquanto isso, persistem grandes lacunas entre as necessidades de saúde mental e o financiamento de políticas voltadas a essa área. O relatório constata que apenas cerca de 2% dos orçamentos governamentais de saúde são alocados para gastos com saúde mental em todo o mundo.

Alô Secretaria da Educação e Núcleo! Já passou da hora de termos profissionais da saúde mental contratados em todas as escolas! Professores não dão conta, nem têm essa formação específica!

Padre Manuel Joaquim R., dos Santos, Arquidiocese de Londrina

Os artigos, cartas e comentários publicados não refletem, necessariamente, a opinião da Folha de Londrina, que os reproduz em exercício da sua atividade jornalística e diante da liberdade de expressão e comunicação que lhes são inerentes.

COMO PARTICIPAR| Os artigos devem conter dados do autor e ter no máximo 3.800 caracteres e no mínimo 1.500 caracteres. As cartas devem ter no máximo 700 caracteres e vir acompanhadas de nome completo, RG, endereço, cidade, telefone e profissão ou ocupação.| As opiniões poderão ser resumidas pelo jornal. | ENVIE PARA [email protected]