Sim, devemos nos desculpar com as crianças e adolescentes. Sim, peço desculpas ao meu filho e a todas as outras crianças. Por quê? Porque fomos omissos durante anos, mas, principalmente porque, fomos omissos demais nos últimos meses. Não lutamos desde o início pela educação, pela infância. Não sabíamos no começo da pandemia, é fato. Mas, a partir do momento que passamos a saber, demoramos a agir.

Aceitamos durante meses um discurso que culpa as crianças, que banaliza seu sofrimento, que banaliza a educação quando diz que as crianças estão sendo ensinadas remotamente. Vimos tudo voltar a viver um novo "normal", exceto as crianças e adolescentes.

Vimos durante meses, a hipocrisia estampada nas campanhas políticas durante as eleições. Vimos o abismo social ir se abrindo cada vez mais, porque sabemos que as possibilidades sempre foram diferentes, mas agora só se distanciaram mais. E como sociedade fizemos o que? Ficamos inertes! Uma omissão de décadas? Sim! Mas, que não precisa continuar!

Se fomos omissos com a educação, com a infância, por diversas vezes até esse momento, podemos deixar de ser. Um erro não justifica o outro! Infância é um momento único! Anos de nossa vida que não voltam. Experiências que precisamos viver para sermos pessoas melhores, mais gentis, mais civilizadas. Lembra do seu primeiro dia de aula na primeira série? Aquele coração batendo, aquelas borboletas no estômago? Então, estamos privando inúmeras crianças desse sentimento!!

Lembra da sua emoção compartilhada com amigos, professores, da sua primeira leitura, primeira escrita? Também estamos privando uma geração dessa lembrança! Lembra dos momentos com os amigos? De coisas que aconteciam e “ficavam” na escola? Também estamos privando as crianças e adolescentes desses momentos por QUASE 12 meses!

Será igual antes? Não! Mas o diferente também pode ser bom. Um copo meio cheio é melhor que um copo vazio! As crianças aprendem melhor que os adultos, sem questionar regras. Basta explicar. É nosso dever como sociedade acreditar em sua capacidade de resiliência e respeitá-las como indivíduos que são. Estamos sim, onerando uma geração que não tem a mínima parcela de culpa na pandemia que se instaurou e tampouco, na forma política como as coisas são conduzidas, privilegiando interesses por vezes obscuros.

Como sociedade, deveríamos estar todos juntos brigando com os políticos pela abertura das escolas, pela melhoria das escolas públicas, pela valorização da educação, pela valorização da comunidade escolar. Deveríamos juntos cobrar explicações sobre investimentos, sobre planejamento para reversão do déficit de ensino, exigir os direitos das crianças e adolescentes. Enquanto isso, a sociedade está brigando entre si, discutindo se as escolas devem abrir ou não.

É possível ver a nossa falha?? A bandeira da educação e valorização da infância deveria ser única, comum a todos. Mas não!! Os que lutam por ela passam horas tentando explicar sua importância para aqueles que não enxergam assim. Uma pena! Porque a pandemia trouxe para muitas pessoas a verdadeira omissão existente até hoje e um desejo real de mudança. Isso deveria atingir a todos. Se fomos omissos um dia, não precisamos ser para sempre. Se algumas gerações já foram penalizadas pela falta de investimento em educação e pela desigualdade social que isso cria e só interessa aos políticos, não precisamos penalizar as próximas.

Porque, sim! A educação e a infância impactam na vida de todos! É a próxima geração que comandará esse país com escolhas políticas, ocupará o mercado de trabalho, decidirá questões importantes. Como diz aquele ditado: "antes tarde do que nunca!" Se nunca nos importamos de fato, podemos fazê-lo agora e tentarmos nos desculpar com as crianças pela nossa omissão consciente.

Mariana Lobo, advogada, Londrina.