Queria escrever sobre as peripécias de Ulisses de James Joyce, onde se descreve a adaptação da Odisseia de Homero, a viagem aventurosa de Odisseu no regresso a guerra de Troia ou sobre Dom Quixote de la Mancha. Impossível, porque não temos moinhos de vento, mas muitas cabeças de vento. País onde predominam Sancho Panças, candidatos estúpidos, outros presidiários, bispos de igrejas que exploram humildes e faltam Cervantes e os poucos - Chico Anísio e Jô Soares -que tínhamos, morreram.

Ignorantes que só associam o socialismo a Venezuela, Cuba e Coreia do Norte e nunca a Portugal, Uruguai ou Chile.

Já dito no Apocalipse: “Eis que surgirão falsos messias e muitos falsos cristãos irão adorá-lo”. Há candidatos que não usam farda mas jaula, onde cabe só um animal e até outros que fazem comícios no caixão da mulher defunta.

O nosso povo brasileiro, que tem e teve poucas oportunidades de aprender, estudar, se cuidar, comer, está à mercê de líderes duvidosos. Vejam Londres, onde políticos públicos só podem usar transporte público para ir trabalhar. Suécia onde deputados não têm assessores, dormem em quitinetes e pagam pelo cafezinho. Por que estamos tão longe?

Uma observação é que no século XIX a Suécia era o país mais pobre da Europa, hoje um dos mais ricos. Por que cresceu tanto? Nenhum deputado sueco tem pensão vitalícia, plano de saúde privado nem imunidade. Na Suíça deputados ganham menos que professores e não têm privilégios. Nenhum tem vaga vitalícia e para ir à assembleia com motorista, só quando pegam ônibus. Além de salários, recebem um voucher de 40 francos suíços suficiente para comprar uma pizza e um refrigerante por 30 dias.

Na Nova Zelândia, a primeira-ministra e políticos reduziram seus salários em 20% para ajudar o povo nos tempos de Covid. Não basta ter boas intenções o importante é ter boas atitudes.

É bom saber que países nórdicos como Finlândia, Noruega e Dinamarca ocupam os primeiros lugares em ranking de felicidade e bem-estar e têm em comum o fato de que os políticos não podem ter mordomias. Será que e por isso que o Brasil sofre tanto?

Temos aqui 513 deputados e cada um pode contratar de 5 a 25 secretários assessores para prestar serviços. Nos EUA 18, no Chile e França 12. Mas os nossos, brasileiros, devem jogar futebol. Acham que está na genética assim como a corrupção. Em Minas Gerais, cada deputado pode ter até 23 secretários pagos pela assembleia daquele estado.

Lira, em 2021, elevou em 170% as despesas médicas de cada deputado, o limite é de 135 mil. Todo ex-deputado pode continuar com serviços do departamento. As mordomias e privilégios dos deputados nos custaram ao erário 6,4 bilhões em 20 anos.

Resumindo: salário R$ 33.700, verba de gabinete em torno de R$ 100 mil e auxílio moradia, perto de R$ 4.200 reais. Antes de ser honesto, deveríamos ter nobreza. Temos? A vantagem de ser honesto e que entre os políticos não haveria concorrência.

Por que que mesmo sabendo de tudo isso, continuamos a eleger presidiários, ladrões e religiosos que roubam? Talvez sejamos coniventes! Boa parte dos nossos candidatos são criminosos costumazes e sabemos disso. É sábio? É bonito? É inteligente? Será que falsos profetas existem mesmo? Olha que a paz da honestidade, faz bem para a alma, prolonga a vida e educa os filhos.

E os pobres? Como diziam os personagens de Chico Anísio e/ou do Caco Antibes: “os pobres que explodam”.

A vantagem de ser brasileiro desligado é que no inferno teríamos a companhia de doces pecadores, como Nelson Rodrigues, Vinicius de Moraes, Reginaldo Rossi, John Lennon, Marilym Monroe, o que seria uma honra. Pena que o inferno não deve existir e os capetas já moram no Brasil há muito tempo. Amém.

Nelio Roberto dos Reis, professor universitário

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