ESPAÇO ABERTO - O papa Francisco e as mulheres
A elas foi confiada a missão das missões: anunciar a ressurreição! Não eram meras destinatárias e sim protagonistas!
PUBLICAÇÃO
quinta-feira, 04 de agosto de 2022
A elas foi confiada a missão das missões: anunciar a ressurreição! Não eram meras destinatárias e sim protagonistas!
Padre Manuel Joaquim R. dos Santos
O assunto é relevante. É inédito. É necessário. É impactante para o mundo. O papa Francisco que encantou o Canadá pela sua humildade e proposta de perdão aos povos originários, avança todos os sinais amarelos e demonstra a convicção de que a Igreja não pode brecar a Novidade do Evangelho.
O próprio Jesus tinha em relação ao sexo feminino uma postura que passados dois mil anos, a sua Igreja ainda não endossa! Essa é a triste constatação! Mas por quê? Pergunta-se o leitor! A resposta não é simples, mas é profundamente oportuna e esclarecedora. Algumas Igrejas evangélicas já deram esse passo e outras o ensaiam, embora timidamente também!
Diga-se de, antemão, que o modus operandi do Mestre, ao andar rodeado de mulheres, ser recebido por elas e tê-las como amigas, em sua época banhada pela cultura greco-romana e tendo como pano de fundo o judaísmo pós-exílico, era um fato inédito e criticado, usando o mais leve termo! Os fariseus o olhavam com suspeita. Mas elas estavam lá! As “marias” e as “madalenas” o seguiam e o ajudavam. E mais: a elas foi confiada a missão das missões: anunciar a ressurreição! Não eram meras destinatárias e sim protagonistas!
A Igreja Católica e depois a protestante não conseguiram impor durante séculos, até hoje, a revolução evangélica na sua plenitude, incluindo aí o respeito total ao ser humano. A própria escravidão conviveu com a propagação da Boa Nova, sem que houvesse, salvo exceções, indignação e profundos incômodos! As atrocidades cometidas pela Inquisição ou pela intolerância, inclusive dentro das Igrejas que nasceram da Reforma, indicam que a Novidade do Evangelho teve dificuldade em se impor sobre as caraterísticas da civilização, que o mesmo cristianismo estava forjando! Porém, atenta aos sinais dos tempos, recomendação profunda de Jesus, a Igreja vai despertando nos últimos anos para a necessidade de resgatar o espírito genuíno dos Evangelhos.
Para Francisco, o papa das reformas, a hora é agora. Sem nenhuma demagogia, mas com determinação e sensibilidade apostólica, ele vai abrindo espaço às mulheres em postos-chave da hierarquia católica. Eram já maravilhosas as expressões dele sobre as mulheres: “é próprio da mulher tomar a peito a vida. A mulher mostra que o sentido da vida não é continuar a produzir coisas, mas tomar a peito as coisas que existem”. Ou então "A mulher é a harmonia, é a poesia, é a beleza. Sem ela, o mundo não seria assim tão belo. Não seria harmônico."
Contudo, o papa Francisco foi bem mais além da retórica! Em 2021, pela primeira vez, havia sido nomeada uma mulher para o cargo número dois do Governatorato da Cidade do Vaticano; Também Barbara Jatta, a primeira diretora dos Museus Vaticanos; a professora Emilce Cuda, secretária da Pontifícia Comissão para a América Latina; Cristiane Murray, vice-diretora da Sala de Imprensa da Santa Sé; e já em 2020, uma mulher havia sido nomeada pela primeira vez subsecretária da Seção da Secretaria de Estado para as Relações com os Estados e as organizações internacionais.
No dia 13 passado, entre os novos membros para o Dicastério para os bispos nomeados pelo Santo Padre, estão as Irmãs Raffaella Petrini F.S.E., secretária geral do Governorato do Estado da Cidade do Vaticano, e Yvonne Reungoat, F.M.A., ex superiora geral das Filhas de Maria Auxiliadora; além da doutora Maria Lia Zervino, presidente da União Mundial de Organizações Femininas Católicas. Pela primeira vez na história, mulheres e leigos passam a fazer parte do grupo que ajuda a escolher os bispos de todo o mundo.
É possível que estejamos décadas ou séculos atrasados. E é mais certo ainda, que grupos de mentalidade saudosista ou retrógrada, venham a criticar o papa por mais esta abertura! Para estes, o posicionamento mencionado acima sobre a atitude de Jesus não bastará! Para os afoitos que também pressionam Francisco a avançar mais depressa, as argumentações de que a história caminha no seu ritmo, serão insuficientes. O papa, porém, vai incutindo na Igreja Católica a sua marca de “homem certo no momento certo”!
Padre Manuel Joaquim R. dos Santos, Arquidiocese de Londrina
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