A retração econômica que varreu o mundo em 2020 impactou sobremaneira o Brasil, com a redução do PIB em 4,1%. A somatória da riqueza produzida no país fechou o ano em R$ 7,448 trilhões, a maior queda desde a série histórica contabilizada pelo IBGE desde 1996. O PIB per capita encolheu para R$ 35.172 o que equivale dizer que cada brasileiro, em média, empobreceu quase 5%, a maior queda em 24 anos.

Durante o ano de 2020 o real sofreu uma desvalorização frente ao dólar de 25%, o que reduziu o PIB em dólares para US$ 1,42 trilhões e nos fez abandonar a 9ª colocação entre as economias mundiais, para assumirmos a 12ª, é bom lembrar que já fomos a 6ª maior economia do planeta. Em 2019 o dólar americano valia R$ 3,70 e atualmente encontra-se em R$ 5,70. As razões da queda acentuada são variadas, vão desde o impacto da pandemia em todo o mundo, até questões domésticas, como juros baixos que reduziram investimentos estrangeiros especulativos, agravados por um baixo crescimento interno e o descrédito internacional diante das políticas do atual governo.

A desvalorização da moeda, ainda que tenha favorecido as exportações, produziu inflação pelo custo adicional dos insumos e produtos importados, comprometendo a capacidade de modernização nacional, os níveis de produtividade e competitividade. A forte exportação de produtos agrícolas reduziu a oferta interna e elevou os preços de alguns produtos essenciais, afetando particularmente as populações mais pobres. Enquanto a inflação nacional fechou 2020 em 4,52%, os mais pobres sofreram alta nos preços na ordem de 6,22%, ante avanço de 2,74% sobre os mais ricos.

É sintomático que se trata de uma inflação de custos e não de demanda, ou seja, não foi provocada pelo aumento do consumo, mas é resultado da composição dos preços inflados pela forte desvalorização do câmbio. Todavia, o Banco Central ao elevar a taxa básica de juros – SELIC - de 2% para 2,75%, um aumento de quase 40%, aplicou um receituário para inflação de demanda e não de custos. Nunca é demais lembrar que juros altos elevam o serviço da dívida, freiam o consumo e o investimento produtivo e apenas beneficiam o rentismo, que se alimenta da especulação financeira sem nada produzir.

Paralelamente à dramática crise que abala o país, a revista Forbes Brasil divulgou a lista dos bilionários nacionais, composta por 238 nomes, 33 dos quais entraram em 2020. Esse dado por si só reforça mais uma vez o principal traço nacional: somos um país escandalosamente dividido. De um lado, mais de metade da população economicamente ativa tenta sobreviver de bicos e atividades informais e 14,6% sequer têm emprego. Na outra ponta, amplia-se a concentração de riqueza no pior momento da economia. O terceiro país que mais produz alimentos no mundo, convive com 10,5 milhões de pessoas passando fome, o maior número dos últimos 15 anos.

Tamanhas iniquidades têm uma explicação relativamente simples. A riqueza acumulada por séculos de exploração e privilégios hereditários auferidos por um pequeno grupo, converte-se em força política, que por sua vez define as regras que perpetuam o status quo.

Enquanto isso, o país bate recorde de mortes, grande parte evitáveis, e vive o falso dilema entre privilegiar a economia ou a vida humana. Com essa disputa estapafúrdia, conseguiu-se o pior resultado possível, uma economia em frangalhos e a concentração de um terço das mortes por Covid do mundo. Ao se relativizar a vida, bloqueou-se o processo de recuperação econômica, pois não há vitalidade econômica possível num quadro dominado pela morte.

Luís Luzio dos Santos, professor de socioeconomia da UEL e autor do livro: Ética e Democracia Econômica: Caminhos para a socialização da economia

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