Qual o melhor modo de combater ideias desprezíveis e violentas contra outros seres humanos? Abrindo o debate ou rechaçando-o desde o início?

Em nome do “bom debate”, a República de Weimar abriu-se ao nazismo. O outro lado não entendeu essa “troca de ideias”, pois só estava interessado em tomar o poder e impor sua vontade. Os nazistas acreditavam que estavam fazendo um bem para a humanidade, aniquilando “raças inferiores". O resto é história.

Para alguns a melhor maneira de combater essas convicções é jogando luz sobre elas. Por outro lado, muitos entendem que “cortar o mal pela raiz” seja mais eficaz.

Ambos têm boas intenções. De boas intenções o inferno está cheio.

Não podemos esquecer que vivemos em uma sociedade com muitas cicatrizes, de modo que autorizar esse tipo de discurso pode influenciar milhões de pessoas, possibilidade impulsionada, sobretudo, na modernidade, pela expansão dessas ideias na internet.

É bem verdade que há coisas magníficas proporcionadas pela tecnologia, mas existe um efeito colateral: a imbecilidade está organizada. Sempre existiu os imbecis; tolos iam ao bar, tornavam públicas as suas tolices, mas é agora, pelas redes, a nível global, que se organizam, com imensa competência de contágio. Em tempos de Terra plana e negacionistas do incontestável, vivemos a pandemia da ignorância: o óbvio vai ficando cada vez mais distante.

Em face desses “tempos confusos”, amplificados pela internet, existem discursos, ideias, que são tão perigosas para a própria sociedade que elas precisam ser combatidas no início.

Nós não podemos normalizar pesadelos, o mundo não é uma utopia de palavras que vão ser apenas escutadas. O mundo é feito de palavras, ações e reações. Por isso devemos agir e reagir.

Nesse sentido, uma das ideias mais famosas do filósofo Karl Popper é sobre o “paradoxo da intolerância”. Segundo ele a tolerância ilimitada levaria ao desaparecimento da tolerância, de modo que se não estivermos preparados para defender a sociedade tolerante contra o ataque dos intolerantes, “os tolerantes serão destruídos, juntamente com a tolerância”.

E é por isso que temos o direito de, em nome da tolerância, não tolerar os intolerantes.

Daniel Marinho Corrêa, professor, servidor do TJPR e mediador judicial

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