O intelectual que pensa e atua na questão ambiental deve ter presente que é preciso e necessário criar uma corrente de conscientização que envolva o pensar e o sentir sobre o meio ambiente que vivemos. Estar à altura de pensar a mudança de sociedade que levou a este estado de descuido e que corresponda a esta ênfase de sentir imprescindível o momento que passa a humanidade.

Momento de reflexão para formatação de projetos para ingresso definitivo na era da sustentabilidade. Pensar o futuro construindo ideais, protótipos, experimentos sociais, ensaios civilizatórios demonstrativos viáveis para que a ideia de sustentabilidade se estabeleça definitivamente na cultura dos povos.

Sabemos pela história que após grandes catástrofes, acidentes que evidenciam a vulnerabilidade e risco cotidiano da vida neste planeta, a população que sofreu tal ação se abre para se integrar, colaborar com novas ideias e tomadas de decisões. E aí apreendemos a conviver com os outros, pois dependemos uns dos outros compreendendo nossa condição. A vida coletiva é um processo de formação complexa, que não avança de forma linear, dá-se com diálogos e com processos efetivos de mudanças na vida das pessoas.

Com bases científicas, e a observação das melhores experiências que surgem do cotidiano podemos ir diminuindo a margem de erros na tomada de decisões acerca de novos procedimentos tecnológicos e científicos. Por isso que nesta fase experimental para o avanço da era sustentável, faz-se importante que também os conhecimentos acadêmicos possam além de dialogar, aproximar-se da realidade foco para sua experimentação concreta com as populações de um determinado território.

O cientista hoje deve pensar e falar do planeta como um todo, ter presente em seus comentários e análises este acompanhamento para que tenha uma preocupação ética com a produção científica em que está envolvido. A ciência no qual estabelece este olhar deve ser conduzida pelos entendimentos múltiplos de diálogos com as mais diferentes áreas de estudos bem como sua com sua aplicabilidade para o bem da humanidade.

Não devemos apenas pensar no presente e do passado, resta-nos estabelecer um olhar crítico do que realizamos e como realizamos. Penso que nossos esforços devem se voltar a pensar o futuro, este é o grande desafio que temos pela frente. Unir avanços sem destruição, ciência e tecnologia com controle e cuidado, zelo total para com toda a biodiversidade planetária. Assim entendermos que o planeta é “nossa” casa comum, cuidada e preservada e para que continue a nos fornecer as condições físicas, químicas e biológicas para a manutenção de nossa vida e de todos os tipos de vida existentes.

Entendo que a soberania dos povos deva ser resguardada, porém, estas devem estar orientadas em função da manutenção da vida no planeta, que é totalmente integrada e este é um fundamento importante. Cabe a adoção de uma ética planetária que dialogue e determine, em tempo breve, toda a extinção de formas predatórias e impactantes, até então utilizadas para a adoção de formas sustentáveis, equilibradas, equitativos aos modelos de produção e consumo. Criando assim um novo estágio civilizacional que compreenda definitivamente que somos natureza e nela estamos envolvidos.

No ponto de vista das intervenções humanas no ambiente faz-se necessário entender o funcionamento da natureza, e deste entendimento buscar soluções baseado nela e não sob interesses de mercado. Essa compreensão passa pelo entendimento da superação da fome e miséria que se encontra distribuídas pelos mais diferentes países, nos mais diferentes continentes, essa tragédia humana presente nas ruas de cidades, que aumenta na medida em que as crises cíclicas dos modelos em destaque não conseguem apresentar saídas, a não ser do acúmulo ainda maior das grandes fortunas.

Para tanto é fundamental a compreensão que devemos unir a capacidade de pensar com a capacidade de fazer, em busca da superação da miséria, juntamente a preservação da biodiversidade. Isso implica uma compreensão profunda de como as mazelas sociais e as soluções ambientais estão articuladas em nossa sociedade. Dessa forma conservar e possibilitar as condições de habitabilidade de tudo e de todos.

Paulo Bassani, professor doutor e sociólogo ambiental