Duas notícias interessantes andam em evidência no Brasil; uma sobre o agronegócio e outra sobre a insegurança alimentar. Em manchete no site Gov.br de 20/05 2022 podemos ler “Exportações do agronegócio em abril alcançam recorde para o mês, com US$ 14,86 bilhões”. Na edição online desta Folha de 08/06/2022 lemos “33 milhões de pessoas passam fome no Brasil, diz pesquisa”. Nitidamente podemos observar dois Brasis diferentes, onde um é o dos ricos exportadores de alimentos e outro é o dos que mal conseguem comer para sobreviver.

Enquanto muitos brasileiros não têm o que comer, há alta expectativa para a produção agrícola. Estima-se que a safra 2021-2022 chegue a mais de 270 milhões de toneladas. O centro de pesquisa Agro Global, ligado ao Insper, estima que as exportações do setor do agro devem ultrapassar 120 bilhões de dólares neste ano.

É preciso entender que embora integre a cadeia produtiva do país, o agronegócio é um mercado dominado globalmente por um seleto grupo de multinacionais. Juntas, as empresas ADM, Bunge, Cargill e Louis Dreyfus controlam 70% da produção, comercialização e transporte de produtos agrícolas. O setor é marcado por sucessivas fusões entre grandes marcas, que aumentam a concentração dos mercados de sementes, agroquímicos e terras.

O foco do agronegócio está no atendimento da demanda global por commodities, que vivem um boom de preços. Os resultados expressivos alcançados pelo setor no Brasil se justificam também pela desvalorização do real, que torna os produtos mais competitivos no exterior.

Ninguém pode negar a importância do agronegócio para a economia brasileira. Nos últimos, o Brasil se tornou um grande provedor para o mundo. Foram conquistados aumentos significativos na produção e na produtividade agropecuárias e o país se tornou um dos principais players do agronegócio mundial.

A agricultura se modernizou, mas ainda existem desafios imensos. Conseguir que a população tenha acesso aos alimentos é um desses desafios. Não se deseja condenar o agronegócio por desejar ganhar mais dinheiro sempre, entretanto, deveria haver um olhar mais atento à população que sofre com a insegurança alimentar.

Leia mais: https://www.folhadelondrina.com.br/geral/33-milhoes-de-pessoas-passam-fome-no-brasil-diz-pesquisa-3206544e.html

É louvável o interesse propagado de alimentar o mundo que acalenta boa parte do agronegócio brasileiro. Também é louvável a trajetória dos trabalhadores e estudiosos em seu grande esforço para chegar no patamar que o agro nacional está hoje. Outrossim, toda a sociedade contribuiu para que se chegasse a esse ponto, a ciência produzida nas grandes universidades públicas confirma tal fato, bem como os investimentos dos governos diretamente no campo.

Estamos em um momento crucial, a alta mundial do preço dos alimentos, incluindo outras causas, empurra grandes massas de pessoas para a fome. É hora do agro olhar mais para dentro do Brasil.

A situação de insegurança alimentar e nutricional precisa ser revertida. A adoção de políticas públicas que reduzam o desequilíbrio entre a produção industrial de alimentos voltada para a exportação e o apoio às pequenas e médias cooperativas, além da agricultura urbana comunitária pode ser um caminho. A assistência a pequenos produtores em todas as fases de seu negócio é fundamental. Que o mundo político e o mundo do agro consigam encurtar a distância entre esses dois Brasis tão desiguais.

Wilson Francisco Moreira é cientista social em Londrina

Receba nossas notícias direto no seu celular, envie, também, suas fotos para a seção 'A cidade fala'. Adicione o WhatsApp da FOLHA por meio do número (43) 99869-0068 ou pelo link wa.me/message/6WMTNSJARGMLL1