Escrever sobre este assunto torna-se espinhoso. Tem gente, buscando em partidos e pessoas extremistas, uma tal de “ordem” que na sua ótica, falta ao mundo, no atual momento. O filme europeu “Je sui Karl”, de Christian Schwochow, de forma brilhante e perspicaz denuncia a fake essencial que está por trás dessa “nova ordem”!

A mentira deslavada construída ao longo de duas horas e seis minutos, revela a que ponto a civilização europeia juvenil está chegando, ao eleger inimigos externos, como islâmicos ou ciganos, para justificar sua tomada de poder pela violência. Vale a pena passar um serão assistindo e depois quem sabe, vomitar. Se para viabilizar a tese, alguns têm que morrer, esse é um discurso tão perverso quanto sem ineditismo!

Por aqui, também se queixam de uma bagunça generalizada que justifique uma “mão forte” e a implantação de uma axiologia credora da estabilidade. Acontece que o tal do caos geralmente apontado, não corresponde ao fiel retrato da sociedade brasileira, mas se configura como um álibi para a tomada de poder, como no referido filme. Não existe desordem na aplicação dos mais elementares princípios de observância da tolerância, garantidos em lei.

Imagem ilustrativa da imagem ESPAÇO ABERTO - Nova ordem sem axiologia?
| Foto: Emerson Nogueira/Futura Press/Folhapress

O arco íris que cobre a nossa constituição racial, religiosa ou política, bem como a de todas as opções de vida, incluindo a sexual, representa a harmonia madura de uma sociedade e é assim que o Brasil se deve sentir. O desconforto que alguns manifestam atribuindo as rachaduras deste edifício social, à demasiada condescendência com um Brasil diferente e plural, é em não poucos casos, causa de preconceitos e consequentemente injustiças.

Porém, o puritanismo aparente que clama por uma nova ordem mundial e nacional, parece andar distraído com algumas “desordens” que deveriam chamar a atenção! O congolês Moise Mugenyi Kabagambe, de 24 anos, foi espancado, no dia 24 de janeiro, até a morte com pedaços de pau por um grupo de cinco homens. O rapaz teve os pés e mãos amarrados. Dizem que a causa foi a cobrança de duas diárias.

Moise veio ao Brasil com a família em 2014, para fugir da fome e da guerra no Congo. Encontrou a morte num país negro e racista. Segundo foi denunciado na imprensa, o crime só rompeu a apatia cinco dias após, porque um protesto da família "atrapalhou" o trânsito da Barra da Tijuca em 29 de janeiro! Iniciam-se agora timidamente, gritos do “je suis Moise”! O país que tem diariamente um crime para se ocupar, desvia o olhar do congolês e vida que segue!

Mas eu disse que o assunto não era fácil! Porque na mesma época, os Meios de Comunicação não deram tréguas a outra “tragédia familiar” que foi o desaparecimento da cachorrinha Pandora, que sumiu durante uma conexão de um voo da Gol de Recife para Navegantes no Aeroporto Internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo, em 15 de dezembro.

Defensores dos direitos dos animais organizaram um protesto no aeroporto na noite do dia que o sumiço completou um mês. Munidos de cartazes com os dizeres "Gol, cadê a Pandora?", os manifestantes circularam pelo terminal do aeroporto. A GOL informou, por nota que "recebeu com alegria, a informação de que a Pandora foi encontrada e passa bem.

A Companhia imediatamente ofereceu assistência adicional, como consulta veterinária, e destinou um colaborador para acompanhar no que fosse necessário e fica à inteira disposição para levá-los de volta para casa, assim que estiverem prontos para viajar em Segurança".

O papa Francisco recebeu reprovação quando, há alguns dias, voltou a criticar o chamado “inverno demográfico” e a “dramática queda na taxa de natalidade” registrada em muitos países ocidentais e sublinhou que é absurdo que muitos substituam filhos por animais! Não existe nenhum juízo de valor, ou contradição, no papa que adoptou o nome do Santo de Assis, padroeiro dos animais. Ele gosta sim de animais. Até garantiu a uma criança que eles também estariam no céu!

Contudo, falamos de hierarquia de valores e se tem a tal da desordem, eis aqui a sua verdadeira causa! O silêncio sobre um homem que apanhou até morrer versus divulgação exaustiva de um animal perdido é, sim, preocupante para o equilíbrio e harmonia de uma sociedade.

Padre Manuel Joaquim R. dos Santos, Arquidiocese de Londrina

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