Segregacionar para governar. Foi sobre este mantra mentiroso que o terceiro reich desenvolveu suas políticas repressivas odiosas, em desfavor daqueles que, a seus olhos, se opunham ao estado nazista.

Escolas especiais. É este o nome falacioso com o qual o governo busca mais deseducar – com aplausos de muitos conhecidos nossos...

Educação não é disputa política – ou não deveria ser. Educar é mais. Politizar a educação é menos.

Paulo Freire, patrono de nossa educação cuja memória os detratores querem agredir, com a edição de medidas segregacionistas do talante das escolas especiais, não deveria estar na berlinda quando o governo investe contra a própria natureza da educação.

Sim, é da natureza da educação que falamos, suposto que qualquer decreto que crie escolas especiais em ordem a apartar alunos é mais revelador da própria deseducação do que índice de pedagogia reversa que se lhe pretenda justificar.

Educar não será, jamais, sinônimo de apartar. Triste de nós que nos obrigamos a questionar a imbecilidade de educar em separado, notadamente quando a matriz educacional estabelece justamente o contrário...

Não se educa apartando.

Se punem classes separando. Foi o que fizeram os nazistas quando mandaram para os campos prisionais seus adversários comunistas e socialistas.

Não satisfeitos e com a marcha de sua máquina de guerra o regime do ódio passou a perseguir os que lhes pareciam ‘raciais e biologicamente inferiores’, alcançando judeus, ciganos, negros e homossexuais...

Em dezembro de 1941 os nazistas emitiram o decreto noite e neblina, estabelecendo que aqueles que resistissem ao regime alemão, nos territórios ocupados (leia-se: além da Alemanha) deveriam ser deportados para os campos de concentração...

Assim é que a história, pela leitura de livros escritos por autores reconhecidos e reverenciados e não por notas de rodapé alocadas em redes sociais caras a negacionistas de toda espécie e em especial aos terraplanistas leais a um certo astrólogo da Virgínia, ensina que o ato de segregacionar jamais foi ou teve qualquer viés educativo...

Antes o contrário; separar diferenças, sejam estas de qualquer natureza, sempre foi e sempre será uma medida política, que visa sei lá o que – só sei que não integra o ideário da cristandade, apenas abastece a insânia dos fundamentalistas...

Imbecis totalitários à parte (na medida em que a história os venceu ontem e seguirá a fazê-lo amanhã), a só ideia de separar, em escolas públicas, portadores de necessidades especiais, das mais diversas, reclama se levantem as espadas da humanidade contra esse desalento...

O mundo caminha para a inclusão; se em passos largos ou tímidos, isso não diz com o caminho então trilhado, mas sim com nossa pressa em resgatar anos e anos de estupidez.

Escolas públicas deveriam ser o palco primévio de um grande encontro de diferenças (de todos os gêneros, de todas as cores, de todas as tendências, de todos os gostos...) em ordem a se estabelecerem convívios que sejam respeitosos às próprias distinções...

Assim fosse, prepararíamos adultos melhores, que cresceriam em meio às diferenças que a vida alinha, em ordem a não cobrar do próximo a própria limitação e covardia...

Façamos um rápido adento: historicamente a educação especial não deve ser confundida com as escolas especiais; estas falam por si, aquela segue a linha do que precisam os que mais precisam – bem lembrado que não precisam ser separados, feito gado...

Fato é: com tanta coisa a ser realizada o governo se imiscui na seara da educação, que desconhece amiúde, suposto que tudo o que li de seus ministros e de suas crias é de sangrar os olhos de quem crê na literatura e, como não bastasse o desatino negacionista que lhes caracterizam, a medida é pródiga em deseducar...

Não separem os portadores de necessidades especiais de qualquer natureza nas escolas. Nossos filhos pretensamente perfeitos têm muito a aprender com eles. Humildade e empatia a começar.

Triste e exclusivos trópicos, onde Chaplin, Tim Maia, Aldir Blanc, Linda Lovelace, Eddie Van Halen, Quino, Hendrix, meu amado Pai, Anthony Bourdain e, principalmente a empatia, seguem fazendo muita falta...

João dos Santos Gomes Filho, advogado