ESPAÇO ABERTO - Não somos apenas isso
PUBLICAÇÃO
domingo, 07 de novembro de 2021
Paulo Bassani
Não podemos começar um debate sobre o futuro, sobre o amanhã, a partir das cristalizações formais que estão aí colocadas e que geraram este modelo. Não podemos apenas ver os fatos que aí estão, isso é limitado, raso, preconceituosos para um viés puramente ideologizado e, não, de uma análise mais profunda.
Devemos buscar interpretações primeiras que expliquem todas as demais, ou seja, aquilo que esta nas profundezas dos fatos, na origem e desdobramentos dos fenômenos. Nessa dimensão, três tipos de direitos não podemos abrir mão: os direitos humanos, os direitos sociais e os direitos da natureza. Essa composição integrada permite nos colocar num estágio civilizatório dialógico superior ao que esta posto.
Se nos deixarmos levar pela ordem estabelecida, somos apenas isso, instrumentos de um processo instaurado. Porém, penso ser possível esta recuperação, mas há necessidade de um esforço enorme para reverter esse processo que somente poderá ocorrer com instâncias democráticos de alto teor, de escolas e universidade livres e autônomas, de mobilização dos movimentos sociais, de organizações populares alastradas nos campos e nas cidades. Ocupando o espaço político como arte de diálogos sobre as formas de viver em nosso tempo, superando as desigualdades sociais e econômicas e nosso comportamento insustentável perante a natureza.
O que se pode fazer como contribuição dos intelectuais críticos que estão aí hoje, de entender, desta forma, uma divisão de tarefas onde podemos nos encontrar para aprofundar, retirando-nos de nossos cantos e colocando todos numa grande “Távola Redonda”. Esse é um desafio, e um grande exercício que necessário se faz realizar para esta pressuposição avançar, e entender nossos limites e aflorar e despertar nossos potenciais.
As definições dos espaços ocorrem no território de vida e no território on-line, onde também aparecem às fronteiras, algumas permeáveis, outras impermeáveis, pois lá já existem os impermeabilizantes ideológicos estabelecidos, e onde não penetram ideias que estejam fora daquele universo.
A construção de uma democracia de mercado, em curso, define seus interlocutores de maneira em que as informações que chegam não se transformam em um conhecimento elaborado, pois não é esta a função deste processo, e as mídias, no geral, possuem um grande papel desta consolidação. Pelo contrário, sabemos que o número de informações não garantem a qualidade das mesmas, pois geralmente sua vulgarização entra em cena. Criando uma desordem de informações, desagregando as mesmas de seus emissores, de suas origens e dos interesses que as cercam. Fazendo com que elas apareçam de uma forma muito simples, confusas, e às vezes falsas, onde não são explicadas as maneiras como elas se formatam, e porque meios e agentes emissores foram elaborados.
Há uma integração informativa criada em camadas da população, que se pasteurizam numa porosidade de interesses difusos nas informações que circulam todos os dias o dia todo. No volume, estão as formas que intoxicam de maneira expressiva todos os olhos e ouvido populares. Nessa pulverização tóxica se manifestam os preconceitos, as fobias, as formas rasas, preconceituosas de nossa expressão sobre as coisas do mundo.
A democracia de alto teor, necessária é um processo, uma aprendizagem que necessita ser exercitada cotidianamente pela população que nela vive. Viver, participar, construir e reconstruir todos os dias, para que ela seja de fato a melhor instância de decisões, participação, de rumos, de alternativas que se colocam no campo político, econômico, social, cultural. Assim observo que o construto democrático terá pela frente um enorme trabalho.
Paulo Bassani, sociólogo e professor universitário


Thiago Nassif
Gente
Leia Gente por Thiago Nassif no Jornal Folha de Londrina que desde 1948 informa com ética, qualidade e independência editorial.

