É muito comum que marcas de bens de consumo divulguem seus compromissos ESG (relativos às boas práticas ambientais, sociais e de governança), e, entre eles, afirmem que suas embalagens são ou serão recicláveis. O problema é que isso não significa, necessariamente, um ganho para o planeta. Sustentabilidade vai além disso.

Nesse artigo, quero explicar por que é preciso ir além. Minha intenção também é mostrar que o papel é uma opção eficaz para a economia circular – além de já possuir um índice de reciclabilidade maior que outros materiais, é compostável e biodegradável, o que é um forte argumento para o consumidor que pensa no futuro do planeta. Em resumo, mesmo que não sejamos eficientes como sociedade para garantir a reciclagem do papel, na pior das hipóteses ele irá se decompor.

Quando afirmo que não basta ser reciclável, quero dizer que, mesmo que um produto seja feito em material passível de reciclagem, e que essa embalagem seja descartada corretamente no lixo adequado, não existem garantias de que ela será reinserida na cadeia produtiva. De acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), apenas 3% de todo o resíduo no Brasil é efetivamente reciclado, ou seja, muito pouco. Em vista disso, vejo que é necessário um esforço e compromisso maior de todos os agentes envolvidos: consumidor, indústria e cooperativas recicladoras para que os recicláveis sejam realmente reciclados.

É claro que conceber a embalagem com material reciclável já é um primeiro passo por parte dos fabricantes, mas é preciso, depois, fazer com que a economia circular funcione efetivamente. Desde manter um portfólio de produtos feitos com materiais reciclados, o que comprova a logística reversa eficaz da marca, até a reinserção do material no processo produtivo.

É preciso influir nos próximos elos da cadeia, o que inclui a própria conscientização do consumidor. Um caminho é estimular a sociedade a devolver essas embalagens, como já ocorre em vários países da Europa – em troca de alguma recompensa monetária.

Mas apenas isso também não é suficiente. A remuneração precisa andar junto com a educação ambiental. Hoje, apenas um terço dos brasileiros sabe descartar corretamente o lixo, sendo necessário conhecer os itens passíveis de reciclagem, sua limpeza prévia e separação adequada, para que não haja contaminação com resíduos orgânicos. Não vamos melhorar se não aprendermos e ensinarmos a descartar.

Apesar de ainda haver dúvidas sobre o que é reciclável ou não, já percebe-se uma mudança comportamental dos consumidores europeus optarem por produtos com embalagens recicladas e recicláveis. O fortalecimento do pilar educação é fundamental para garantirmos que um número maior de insumo chegue a um elo importantíssimo da cadeia: os catadores e cooperativas. São eles que geram renda com a reciclagem e cujo trabalho é fundamental para manter o funcionamento da engrenagem. As associações de coleta seletiva hoje representam um ativo para a indústria, tanto nas cidades que possuem a coleta pública como naquelas que ainda não a implementaram.

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Graças ao suor desses trabalhadores, as embalagens retornam à indústria beneficiadora para serem recicladas. Nos últimos dois anos, vimos aumentar o trânsito da logística reversa via processos com tecnologia blockchain – pois não basta transportar o lixo para uma nova utilização, é preciso certificar sua origem e seu novo destino, com a pesagem de quantidade e emissão de documentos confiáveis.

Se pode parecer complicado criar soluções de forma estruturante para promover e garantir o reuso dos resíduos, um primeiro passo efetivo e seguro para quebrar a inércia é migrar o material com o qual é feita a embalagem para soluções que já ofereçam um alto índice de reciclabilidade, como o papel.

Depois disso, é entender a importância de ao menos uma parte do portfólio de embalagens das marcas terem conteúdo reciclado. Isso força a empresa a desenvolver alternativas de implementar processos de economia circular, e como consequência criar diferencial para a marca ao atender aos anseios dos consumidor final e do planeta.

Se todos fizerem sua parte, os números da reciclagem no Brasil irão subir e, em breve, a expressão ″sou reciclável″ será acompanhada e fortalecida pelo ″sou reciclado″.

Diego Gracia é gerente de Estratégia e Marketing da Ibema

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