Free speech censorship censored and freedom of expression concept , political art illustration, conceptual artwork
Free speech censorship censored and freedom of expression concept , political art illustration, conceptual artwork | Foto: istock

A população mundial, onde a democracia é plena, assiste perplexa e aterrorizada o massacre cruel que o sanguinário Putin impõe à Ucrânia. Entretanto, a maioria dos habitantes da Rússia desconhece a barbárie e o nível desastroso das atrocidades que o seu presidente utiliza para conquistar o seu fatídico objetivo.

No poder há mais de duas décadas e com mandato estendido até 2036, o ditador russo cala a imprensa, persegue profissionais da mídia, persegue minorias, prende e tortura aqueles mais esclarecidos que protestam e o contestam, entre outras restrições de livre manifestação. Com a imprensa sufocada e sem independência, a Rússia é uma potência em desinformação.

Trazendo o exemplo para o nosso país, no próximo pleito para a Presidência da República a disputa final pelo cargo poderá ser entre dois personagens que têm ojeriza pelos órgãos de comunicação.

De um lado, um ex-presidente condenado e ex-presidiário, que fala abertamente em regular a mídia. Abro um parêntese para destacar que oficialmente tal regulação no mundo mais desenvolvido é uma ferramenta para, principalmente, dar mais equilíbrio econômico entre as grandes empresas de comunicação, visando uma melhor competitividade no setor.

Todavia, por aqui e em se tratando de um ex-presidente, cuja performance deplorável na conduta da nação é um fato incontestável, não dá para crer que o intuito seja apenas esse. Por trás dessa aparente simples formalidade de ordenamento de normas virá, com certeza, o revanchismo em forma de censura, impulsionado pela cobertura jornalística das suas falcatruas na época que presidia o país, também pela atuação determinante, embora democrática e imparcial, da mídia por ocasião do impeachment da sua discípula Dilma Rousseff e pelas agruras dos 580 dias que passou na cadeia.

Do outro, buscando a reeleição, o atual presidente da República é extremamente hostil com uma grande parcela da imprensa nacional. É useiro e vezeiro em tratar repórteres e apresentadores com truculência e ofensas morais, além de ameaçar constantemente cassar concessões daqueles veículos de comunicação que o criticam.

Estimula seus seguidores a rotular a grande mídia como "lixo", com exceção, é claro, de uma minoria de órgãos que se submetem ao servilismo de bajulá-lo incondicionalmente, mediante o beneplácito das gordas verbas publicitárias oficiais. Também se apoia num gabinete que espalha fake news em profusão, multiplicadas de forma célere e abundante por uma multidão de desinformados que no "copia e cola" espalham essas mentiras nas redes sociais.

Outro fato execrável é a atitude do presidente em descumprir a Lei 12.527/2011 de Acesso à Informação, banalizando a imposição do sigilo de 100 anos sobre inúmeros temas espinhosos e polêmicos, tais como: o teor da sua carteira de vacinação, a destinação de verbas bilionárias do orçamento secreto, os gastos com cartões corporativos, os encontros às escondidas com os pastores lobistas investigados por corrupção, o polêmico mistério das visitas dos seus filhos ao seu gabinete, os documentos do processo do caso da participação de Pazuello em atos políticos com o próprio presidente, entre outros. Tudo isso sugere que muita sujeira está sendo varrida para debaixo dos tapetes palacianos.

O amordaçamento dos órgãos de comunicação e a falta de transparência nas decisões governamentais são desejos permanentes e anseios obsessivos daqueles que querem governar sustentados por regimes totalitários. Nas urnas, é preciso lembrar que a imprensa livre e independente é o grande pilar da democracia.

Ludinei Picelli é administrador de empresas em Londrina