Certamente podem haver problemas de gestão nos órgãos públicos, incluso aí as universidades públicas. Cabe ao gestor público, responsável por gerir de maneira mais ampla nossos impostos, no caso o Estado, atuar constantemente nesta questão. Entretanto ao tentar corrigir eventuais erros o Estado tem que olhar para suas instituições e basear sua ação não somente na contenção pura e simples de despesas, mas focar na finalidade de suas instituições, e nas necessidades de nossa sociedade, dos municípios, do próprio Estado e do país. E aí a LGU – Lei Geral das Universidades - derrapou! Errou na contenção de despesas entre outras coisas por faze-lo emparelhando instituições de história, perfil e amadurecimento diferentes e, principalmente, omitiu-se quanto à finalidade e ao atendimento de nossas atuais necessidades.

Não vou me aprofundar no que diz respeito à contenção de despesas, só chamar a atenção, neste caso, que nas IES públicas se faz outras coisas além de dar aulas, importantíssimas para as cidades em que estão inclusas, para o Estado, para o país. Mas este não é o foco desse artigo.

Se analisarmos de um ponto de vista mais geral, nossas IES públicas apresentam problemas quanto à sua inserção nos processos de desenvolvimento locais, ainda estão relativamente afastadas da inovação e da tecnologia e principalmente distantes da indústria. Isso não é só no Paraná, é uma questão nacional. O peso da indústria em nossa economia tem diminuído de forma contínua e sistemática desde a década de 80. Compramos cada vez mais produtos de complexidade tecnológica e vendemos commodities - minérios, carnes, grãos. Somos dependentes! A economia no mundo hoje é cada vez mais baseada em conhecimento e essa deficiência da relação da universidade com a indústria deveria ter sido motivo de análise pelo Estado e contemplado também na LGU pois é na universidade pública que se encontra, que se concentra majoritariamente, no Brasil, este conhecimento.

Vou dar alguns exemplos do que poderia ter sido feito, se esta preocupação - aumentar a inserção de nossas IES no desenvolvimento local - tivesse sido levada em conta. Primeiro poderia ter-se estimado um percentual de recursos a mais do total que vai para as IES para a consolidação e criação de cursos na área tecnológica, como por exemplo e principalmente os de engenharias. A UEM tem 12, a UEL tem 3, então poderia-se ter previsto um aumento do percentual para essa finalidade.

Segundo, de forma semelhante, poderia ter-se previsto aumento do orçamento em função da carga horária das IES dedicadas à relação com a indústria local. Por exemplo, estabelecer metas em carga de trabalho vinculada à indústria o que poderia ser aferido pela carga horária docente em projetos nessa atividade e/ou a quantidade de TCCs, projetos de extensão, projetos de Iniciação Científica, temas em cursos de especialização, temas de dissertações de mestrado ou teses de doutorado, e remunerar as IES por essa vinculação. Licenciamentos para a indústria de resultado de pesquisas poderiam também ser constantemente contabilizados. Agências de Inovação Tecnológica têm que negociar constantemente carga horária docente e de técnicos administrativos para suas atividades e poderiam ser beneficiadas diretamente com a previsão de recursos humanos especificamente para elas.

Certamente existem outras iniciativas que poderiam ser tomadas mas o que quero chamar a atenção é que políticas públicas de desenvolvimento têm que ser motivo de atenção em cada linha do pensamento e ação do Estado. Não foi o caso da LGU!

Ivan Frederico Lupiano Dias é ex-professor de Física da UEL e autor do projeto “Proposta de Industrialização para Londrina e região baseada no desenvolvimento de um Polo Tecnológico”

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