ESPAÇO ABERTO - Ladeira que não tem fim
PUBLICAÇÃO
quarta-feira, 30 de junho de 2021
Padre Manuel Joaquim R. dos Santos
Há anos, escrevi aqui na Folha, sobre um desgraçado pendurado num galho podre, implorando uma corda, viesse de onde viesse. Ela não veio! O sujeito ex-todo poderoso, derrubador de presidente, atendia pelo nome de Eduardo Cunha. Condenado por crimes vários, está em casa, em prisão domiciliar, desde Março de 2020. Já escreveu um livro, e ultimamente, até um artigo sobre o processo eleitoral! Político raposa astuta, caiu em desgraça, não primeiramente pelos crimes cometidos, mas essencialmente pelas nuances do próprio sistema que o guindou ao posto mais alto do legislativo nacional e depois o soltou em queda livre. Esse senhor, tem muito a nos ensinar.
Quando queremos reafirmar o que desejamos no mais profundo das nossas entranhas, costumamos dizer que vivemos um “outro e novo momento”! E assim, negamos as aulas do passado e imploramos as bênçãos do futuro. O Brasil de fato, vive um “novo momento”. Porém, o seu maior problema é que de novo nada tem! São cenas melancólicas de um filme déjá vu! O começo, é sempre similar ou igual: “nova política, combate às mazelas do país, principalmente a corrupção e conserto dos descalabros do passado”! Se possível, empurrá-los para o forno inexorável da história, de onde as suas cinzas, não poluiriam mais, o brilhantismo de um presente idílico!
Contudo, não é o que nós, pobres mortais, 99% dos cidadãos nacionais, experimentamos. Não existe e nunca existiu, nenhuma intenção de nos “conduzir para verdes pastagens”! Passados 30 meses deste governo “novo”, tudo expele um odor insuportável de uma realidade putrificada e podre. Os pobres e miseráveis, vamos lhes chamar de 70% de brasileiros, já sentiram no mercado, que 30% de inflação lhes comeu aquilo que não podem mais ingerir! Quimeras que se derreteram no lugar da carne gorda em churrasquinhos de domingo!
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A Lava Jato que nos orgulhava e que relançou o país ao topo da seriedade internacional, se esfarelou com o dedo implícito e explícito do presidente da República, revelando a mentira deslavada do tal do combate à corrupção endêmica da nação! Os joguinhos de poder, a dependência do Centrão, os esquemas de atraso na aquisição de vacinas, agora revelados, apontam para a mesmice que nos persegue desde a República Velha ou quiçá, desde Cabral!
E aí está o personagem Eduardo, que de exótico nada tem, rindo de soslaio para a atual situação! Será que desta feita, surgirá uma corda na íngreme ladeira da desgraça? As apostas vão surgindo, onde as novelas da TV já há muito perderam, para esta nua e crua realidade que nos mata no bolso e nas UTIs dos hospitais.
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O Cunha tem muito a nos ensinar; mas mais aos protagonistas deste enredo que de inédito nada tem. Portanto, a pergunta não é o como e com quem; a verdadeira questão é quando! Como alguém já escreveu, não é o Bolsonaro que garante o emprego de Barros. É exatamente o contrário! E aqui, como bem nos ensina a história, é que as barbas do Planalto ficam de molho! Engana-se quem, por ingenuidade ou desconhecimento, bota fé na consistência do apoio do tal do Centrão. Além de ser caríssimo, nunca é definitivo!
A CPI, instaurada pela “minoria”, com aval do Supremo, foi muito mais além do que os leitores imaginariam. E, é claro, do que o Executivo queria! Mas, CPI é assim mesmo! Ninguém sabe como termina! Com mais de meio milhão de mortos pela Covid, já sobejamente denunciados como prática genocida, pela omissão e negacionismo, soma-se agora a safadeza de esquemas na aquisição de vacinas, envolvendo nomes já conhecidos de outros verões!
E para encerrar, me lembrei da definição de prevaricação: “crime cometido por um funcionário público que usa o seu cargo e poder, para satisfazer interesses pessoais, atrasando ou deixando de praticar as suas funções de ofício”! O desabafo do presidente, aos irmãos Miranda sobre um “tal deputado”, não poderá ficar apenas como revelação de impotência perante um mal feito, ainda que potencial!
Padre Manuel Joaquim R. dos Santos, Arquidiocese de Londrina
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