Made in China. Cardboard boxes with text made in China and chinese flag on the roller conveyor. 3d illustration
Made in China. Cardboard boxes with text made in China and chinese flag on the roller conveyor. 3d illustration | Foto: iStock

O sistema Toyota de produção, pensado por Taiichi Ohno, na década de 1950, a partir de observações nos supermercados norte-americanos, onde os clientes levavam consigo uma lista com os itens e quantidades que necessitavam comprar, particularidade que fez surgir na mente de Ohno o princípio do kanban, essência do "just in time", em que a indústria solicitava a entrega de componentes aos seus fornecedores apenas quando eles seriam utilizados na produção, eliminando grandes estoques, capitais e mão de obra para a sua formação e manuseio. A difusão desta filosofia de produção contribuiu com a redução dos custos, com a produtividade, maior variedade de produtos, menores preços e maior consumo.

O processo de globalização econômica, da década de 1990, expandiu as cadeias de fornecedores em escala mundial. As facilidades nos transportes aéreo e marítimo, rápido manuseio e desembaraço de cargas, tornaram o just in time planetário. Os baixos custos, as grandes escalas e volumes de produção constante melhoria na qualidade e na evolução tecnológica das suas fábricas, tornaram a China o fornecedor por excelência da indústria mundial.

A dependência de componentes chineses cresceu exponencialmente neste século, com indústrias tradicionais se estabelecendo naquele país, baixando custos, ampliando a dependência dos mercados produtivo e consumidor mundial em relação ao que acontece com e na China. O just in time globalizou-se e passou a falar mandarim, mesmo se comunicando em inglês. A pandemia de Covid-19 colocou tudo isso em xeque.

Não se sabe ao certo ainda que animal contaminou os primeiros doentes que desenvolveram a Covid-19, os primeiros casos foram confirmados em dezembro de 2020, em um mercado de alimentos em Wuhan, capital da província chinesa de Hubei, A cidade, com 11 milhões de habitantes, às margens do rio Yangtzé e do eixo ferroviário Pequim-Hong Kong, é um centro da indústria automotiva, com forte presença mundial, também é importante polo de pesquisa, desenvolvimento e fabricação de veículos elétricos. Colocada em lockdown em 23 de janeiro de 2020, teve bloqueio de rodovias, suspensão de trens e de voos. Em poucos dias, outras cidades e províncias também foram fechadas, atingindo bem mais de 54 por cento do produto interno bruto da China. Portos foram fechados, fábricas paralisadas e o transporte bloqueado. Antes que a Covid-19 se espalhasse pelo mundo, o just in time globalizado foi vitimado com a com a falta de suprimentos e componentes para a produção industrial.

O desenvolvimento de vacinas e sua aplicação na população mundial, fizeram os números de mortes e de casos graves reduzirem ao ponto de ensaiar-se uma retomada da produção industrial em escala global, inclusive na China que manteve uma política sanitária rígida. Novos problemas surgiram e prejudicaram o just in time global, faltaram contêineres e navios de carga solta foram usados, dificultando o rápido manuseio das cargas, atrasando cronogramas.

Novos surtos recentes da doença na China levaram a novos lockdowns, principalmente em Xangai, isolando cidades e fábricas que, mesmo mantendo seus operários isolados, se viram sem motoristas de caminhão, operadores de carga em portos, etc. A falta de componentes que provoca o fechamento de fábricas, mesmo no Brasil, até que ocorra uma normalidade no fornecimento ou que se encontrem, localmente novos fornecedores, uma tendência forte.

A pandemia de Covid-19 está provocando uma reordenação das cadeias produtivas mundiais, com reflexos na retomada da produção em nível nacional, com vantagens locais. Pode ser que emerja uma nova economia, que nos beneficie mais, com novos arranjos produtivos, desse caos e medo ao qual sobrevivemos após mais de dois anos.

Roberto Bondarik é professor titular da Universidade Tecnológica Federal do Paraná em Cornélio Procópio

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