ESPAÇO ABERTO - Jesus de Nazaré
Poucos se mantêm na dignidade esperada para um adepto dos ideais cristãos
PUBLICAÇÃO
sexta-feira, 23 de dezembro de 2022
Poucos se mantêm na dignidade esperada para um adepto dos ideais cristãos
Nelio Roberto dos Reis
Jesus Cristo admirado, é muito estudado. Especulações sugerem que ele não nasceu em 25 de dezembro, nem em Belém e nem em uma manjedoura.
O nascimento de Jesus não é citado pelo evangelista Marcos e nem por João. Nenhum texto do Novo Testamento fala em 25 de dezembro. A história mostra que a data foi escolhida para a solenidade quando Roma comemorava a grande festa ao Deus do Sol, e a Igreja batizou como cristã a festa pagã dos romanos.
Os evangelistas falam de Cristo depois dos 30 anos e dão como certo que toda a família de Jesus era da minúscula cidade rural de Nazaré, na região da Galileia e não de Belém. E é por isso que carrega no nome seu local de origem, Jesus de Nazaré.
Sabemos que ele apareceu já adulto, quando começou a assustar os arredores onde vivia, com suas ideias socialistas e misericordiosas. Mas o que importa tudo isso? Se ele foi pedreiro ou carpinteiro, se casou com Maria Madalena ou se era pobre? O importante, é que, enquanto líder, fez com que o seu movimento revolucionário durasse até os dias de hoje e desse origem ao futuro Cristianismo, 2,18 bilhões de pessoas, 25% da humanidade.
Pode ter nascido sem cantos de anjos, sem magos vindos do Oriente e sem ser perseguido por Herodes. Mudou a história do Ocidente.
Embora muitos se digam cristãos e pouquíssimos, muito poucos se comportem como ele, talvez ninguém. Mas o importante aqui é a tentativa pois até Pedro, o preferido, chegou a negá-lo três vezes. Mahatma Gandhi disse: “Eu seria cristão, sem dúvida, se os cristãos o fossem vinte e quatro horas por dia”.
Ensinava às pessoas a amar aos seus semelhantes, com toda a força do seu coração e de suas mentes. Nos ensinou a solidariedade, caminhar na benevolência, mostrou o amor aos mais necessitados. Nos deixou valores como: amor; fé; amabilidade; honestidade; alegria; humildade; gratidão.
Outra coisa que não deveria ter tanta impertinência é se Maria deu à luz e continuou virgem ou se era uma pessoa como todas as mulheres da História da humanidade. Também o fato dele ter ressuscitado com o corpo, um punhado de moléculas de carbono, nitrogênio, oxigênio, é desimportante e não faria diferença se tivesse ressuscitado só de alma, uma forma mais compreensível. Pois Deus sempre procurou os meios mais naturais, deixando a natureza funcionar nas suas manifestações.
Procurando a igualdade e justiça prodigiosa, é refletir, quem seria o Cristo dos Budistas (376 milhões), do Hinduísmo (900 milhões) e do Islamismo (1,6 bilhões), e das tradicionais religiões chinesas (400 milhões de adeptos). O certo é que, dentro da razão divina, devem ter recebido a mesma equidade, porque se assim não fosse Deus não seria tão Deus e, deste modo, não teríamos que nos preocupar com Ele.
O maior problema do paradoxo é ter estudado os absurdos das Cruzadas, com a cruz sendo usada como instrumento para matar os seus semelhantes. Ainda quando lemos sobre o tribunal da Inquisição, que mandou mais de 1 milhão de pessoas para a morte em um fanatismo assustador, quase igual ao que os brasileiros fazem com os políticos hoje.
Claro que nos equivocamos com as mensagens de Jesus de Nazaré. É um absurdo defender qualquer morte, defender a expulsão dos pobres de um lugar nobre, perseguir a população LGBT. É bem diferente de ‘’tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber, estive nu e me vestistes, estive preso e fostes me visitar.... Quando fizeres a um destes pequenos é a mim que fazeis”.
O que fazer com a nossa hipocrisia? A hipocrisia é a arte de exigir dos outros aquilo que não praticamos. Um cristão fala do amor, sem estar preparado para isso. Ao nosso redor, todos falam da falsidade e outros da hipocrisia, mas poucos se mantêm na dignidade esperada para um adepto dos ideais cristãos.
Amém, ou axé?
Nelio Roberto dos Reis é professor universitário e doutor em Ciências

