Há poucos dias, celebrávamos o Dia Mundial da Imprensa. Pouco a comemorar. Cada vez são menos os países que sobem no ranking da liberdade efetiva, uma pequena parcela está estável e a grande maioria, caindo na escuridão da ausência de liberdade!

Hoje, cerca de 28 países são considerados perigosíssimos para jornalistas! O século XXI não é para amadores! A filipina Maria Ressa, ganhadora do Nobel da Paz do ano passado, afirmou que a sociedade passa em 2022 por um "momento existencial". "Temos de fazer uma escolha. Ou vamos numa direção ou em outra"! Ela vive num país em que o filho do grande ditador Ferdinand Marcos, corrupto e sanguinário que governou as Filipinas por vinte anos, pode ser eleito! Ela, se condenada, poderá ficar o resto dos seus dias na prisão. Qual a razão? Porque em 2012, ela cofundou a Rappler, uma empresa de mídia digital para o jornalismo investigativo e como jornalista e diretora executiva dessa empresa, Ressa demonstrou ser uma defensora destemida da liberdade de expressão. Assim justificaram a atribuição do prêmio Nobel!

Na Rússia, atualmente, a maioria aprova Putin na invasão da Ucrânia e é consenso que “se necessário for”, se usem armas nucleares! Como se chegou a esta “loucura generalizada” tolerando o apocalipse da humanidade? Sem nenhum segredo! A Rússia não está só. O fenômeno da possível eleição do filho do ditador nas Filipinas, de Trump nos EUA, de Viktor Orbán na Hungria, de Bolsonaro no Brasil e avançando por todos os continentes, a manipulação da informação, a demonização dos profissionais da imprensa, a recusa dos fatos, a opção pelas redes sociais e a instituição de uma “propaganda total”, têm-se consolidado.

Putin fez o trabalho de casa de forma “exímia”, merecendo uma nota altíssima na escola da perversidade totalitarista. Enquanto o mundo ocidental batia nas suas costas e realizava negócios com o Kremlin, ele eliminava um por um os seus desafetos e opositores, nomeadamente jornalistas e donos de meios de comunicação social. Ao mesmo tempo, punha em movimento uma máquina de desinformação que faria ruborizar Stalin! O povo russo tem hoje a convicção plena de que o mundo ocidental os odeia e os quer destruir! Falamos de uma das maiores nações do mundo, com 17 milhões de quilômetros quadrados e uma invejável história desde o século IX com o reino de Kiev. O fundo do poço, não é onde imaginávamos!

Jornalista é persona non grata numa época em que as democracias também parecem sê-lo! Como nos diz a ganhadora do Nobel, jornalistas estão sendo atacados para que a sua credibilidade seja afetada. Primeiro, desmontam a credibilidade e a substituem por uma narrativa que convém ao ditador. "O quarto poder tem essa função de controle e equilíbrio. Se os jornalistas não podem exercer suas funções, então não há democracia. Um poder absoluto corrompe e isso é parte de nossa função", nos garante Maria Ressa.

O primeiro trimestre de 2022 fechou com uma conta assustadora de mortes de jornalistas no mundo: 28, o que representa a metade das fatalidades registradas em todo o ano de 2021. Matam-se profissionais da imprensa com a intenção clara de implodir o regime democrático. O modus operandi segue o script das ditaduras do passado! Fecham-se jornais, exilam-se, torturam-se e matam-se jornalistas, instala-se o medo e comete-se a maior atrocidade: com falsidades e mentiras vira-se o povo contra eles! Isso é a morte da democracia e de um país!

No nosso quintal chamado Brasil são vários os ataques constatados contra jornalistas de certas empresas de comunicação. Todos têm em comum o incômodo com a verdade dos fatos. Há algo no país, hoje, que nos remete para a idade das trevas. Para a época em que descobertas científicas ou narrativas oculares desestabilizavam o establishment hegemônico e provocavam caça às bruxas! A ortodoxia da versão imposta pelo WhatsApp não tolera a heresia dos que a cada manhã trazem a vida real tal qual ela é, mesmo que nos obrigue a uma revisão contínua de atitudes e opções. O brasileiro médio está se fechando para a informação correta, porque a luz ao dissipar as trevas dá uma ligeira e momentânea sensação de cegueira!

"Sem fatos, não há verdade. Sem verdade, não há democracia" (Maria Ressa)

Padre Manuel Joaquim R. dos Santos, Arquidiocese de Londrina

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