Para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a estratificação da renda dos brasileiros baseia-se em alguns critérios econômicos. A família rica é aquela cuja renda mensal é igual ou superior a 40 salários. Em termos absolutos, os ricos saltaram de 362 mil em 2003 (0,8%) para 476,5 mil (1%) da população em 2008. Já a elite brasileira, classes A e B, é composta por grupos familiares com renda superior a R$ 4.559. A classe C é composta por indivíduos pertencentes a famílias que possuem renda mensal entre R$ 1.064 e R$ 4.591. Os brasileiros remediados estão inseridos na classe D e constituem as famílias que recebem entre R$ 768 e R$ 1.064. O último vagão do trem da renda acolhe os pobres da classe E, inseridos nas famílias que ganham abaixo de R$ 768 mensais.
Com base no parâmetro da renda familiar é interessante observar que o período entre 2004-2008 foi caracterizado por um intenso processo de mobilidade social ascendente. As famílias das classes A e B evoluíram de 11,61% para 15,52% no período. Outra informação relevante diz respeito ao encolhimento das famílias pobres no período em questão. A classe D diminuiu de 46,13% para 32,59%.
Em relação aos pobres do Brasil é interessante avaliar, ainda, que os anos de 2003-2008 apontaram redução da pobreza na ordem de 35% para 24,1%, entre as famílias com renda mensal per capita de até meio salário mínimo (R$ 207,50). Quanto ao número de indigentes, renda de até R$ 103,75, observa-se o recuo de 13,7% para 6,6% no período. Em termos absolutos, quase 3 milhões de indigentes deixaram essa deplorável condição. Apesar dos avanços obtidos em direção ao combate à pobreza, o Brasil ainda precisa caminhar muito para oferecer melhores condições de salário e oportunidade de emprego a milhões de brasileiros.
Uma pessoa sem trabalho ou exercendo trabalho sujo e mal pago vive em permanente crise de identidade social. O nome pessoal e o tipo de trabalho que alguém faz ou pretende fazer representam categorias-chave para conferir identidade e designar o lugar que cada um ocupa ou almeja ocupar na sociedade. Por isso, quando uma pessoa se aproxima da outra é quase certo ouvir as seguintes indagações: qual é o seu nome, o que você faz ou, então, o que estuda, o que pretende ser e fazer?
O dilema do desemprego tem sido tratado à base de discrepâncias e simplificações estatísticas. Observa-se, por exemplo, uma inaceitável contradição numérica entre os dados formulados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). De acordo com o IBGE, o país contabilizou cerca de 2,1 milhões de desempregados no mês de março/2009. Em agosto deste ano, o Dieese informou que o país possuía 3.029 milhões de pessoas sem emprego.
Como explicar tamanha diferença? Para os burocratas e peritos estatísticos do IBGE, trata-se de um simples critério metodológico. Quem não está procurando emprego na semana da pesquisa, não está desempregado, portanto, não engrossa as estatísticas dos sem-emprego. O Dieese, ao contrário, adota uma metodologia mais realista. Inclui o termo desemprego por desalento para qualificar os desempregados que não estão procurando emprego porque o cansaram de procurar em vão.
Numa sociedade organizada inteiramente em função da liberdade para o consumo é preciso adicionar outros critérios. Há situações em que o trabalho existe, porém, o desinteresse por ele fica por conta da baixa remuneração. A pessoa encontra possibilidade de trabalho, porém, sente-se desestimulada quando imagina que irá receber o salário mínimo. Ela calcula o quanto irá gastar com transporte, despesas extras fora de casa e pode formular o seguinte raciocínio: é mais barato ficar em casa e ajudar cuidar das crianças. Se esse critério for incluído nas estatísticas oficiais, o índice de desemprego adquire contornos dramáticos no país.

CEZAR BUENO é sociólogo e professor de Sociologia da Unifil e PUC-PR, campus Londrina