Estamos num tempo de muita fé. Não apenas porque celebramos o advento, período litúrgico que marca a espera e tão aguardada vinda de Cristo, mas, sobretudo, por estarmos passando por tantas dificuldades sanitárias, financeiras e sociais no Brasil de 2021. Dessa forma, o Natal deste ano é um convite para ampliarmos os desejos de esperança, de amor, de solidariedade, os quais renovamos a cada ano. E em 2022, ano em que o Santuário de Nossa Senhora Aparecida do Norte do Paraná completa o Jubileu de Platina (70 anos como paróquia) e o Jubileu de Prata (25 anos como santuário), somos também convidados a voltarmos o nosso olhar para o outro, para os mais necessitados. Assim como fez Jesus.

A propósito, o nascimento de Cristo, que celebramos no Natal, é rodeado de reflexões que nos levam a imitar seu exemplo de vida, de sabedoria e de ação. Em primeiro lugar, Jesus não nasceu entre os mais abastados e ricos. Ao contrário, fugido, nasceu numa manjedoura, entre os animais, em condições precárias. E ainda hoje se faz presente no seio da população em situação de vulnerabilidade, incluindo os que moram na rua. Tapar os olhos para esses problemas e essas dificuldades é o mesmo que renegar a essência do cristianismo. Mas, não devemos apenas colocar em prática doações que atendam às necessidades mais urgentes. Devemos, sim, trabalhar para transformar as estruturas sociais mais perversas, possibilitando uma nova realidade de vida.

Ao longo dos seus 70 anos de história, sendo a segunda paróquia de Londrina, o hoje Santuário tem uma trajetória de trabalhos sociais desenvolvidos na comunidade, tanto a da Vila Nova, quando a de Londrina. O trabalho que nossos vicentinos fazem ajuda e contribui, mas, poderia ser muito maior na medida em que as doações também o fossem. Da mesma maneira que as contribuições financeiras para a Missão dos Devotos do Santuário, que abarcam doações do Brasil todo. Então, hoje lanço o desafio: quer, de fato, dar um bom presente de Natal? Quer fazer a diferença neste Natal de 2022? Faça uma doação, passe a contribuir com projetos sociais e ajude a transformar a vida das pessoas!

Cristo, nossa razão de ser, nunca desviou o seu olhar dos mais necessitados. Ensinou-nos a sermos bons samaritanos, visitou os pecadores, cobradores de impostos, curou cegos, leprosos e acolheu prostitutas e tantas outras pessoas marginalizadas. Desde que nasceu, durante toda sua jornada até o momento em que foi crucificado, Jesus esteve, literalmente, ao lado dos mais pobres, dos excluídos, dos que viviam à margem da sociedade. E, afinal, hoje, quem são os marginalizados socialmente? De quem devemos estar ao lado? A quem devemos dirigir nossa ajuda e contribuição?

No último ano, vimos cenas que ficarão marcadas na retrospectiva de 2021: brasileiros buscando comida em caminhões de lixo, comendo ossos descartados por supermercados e desmaiando de fome em filas de postos de saúde. Uma triste realidade agravada pela pandemia do coronavírus, a qual não fomos capazes de superar. Dados da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) apontam que em 2020 a porcentagem de brasileiros em situação de fome pulou para 8% contra 2,5% no ano anterior. Assim como os que passam fome moderada, que chegou a 24% em 2020, contra 16% em 2019. Já o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) tem um dado mais preocupante: de 27% para 35%.

Neste tempo do advento, em que nos preparamos para receber o menino Jesus em nossos corações, façamos um exercício espiritual diferente. Se, como diz o apóstolo Tiago, “a fé sem obras é morta” (Tiago 2, 26), nós, como cristãos, precisamos transformar nossas orações deste ano em atitude para os mais necessitados, para os que vivem em situação de vulnerabilidade. O que podemos, de fato, fazer? Além das doações, que suprem necessidades mais urgentes, como podemos contribuir para transformar a vida das pessoas com as quais Jesus passaria o Natal se por aqui estivesse fisicamente presente?

Padre Rodolfo Trisltz, pároco e reitor do Santuário de Nossa Senhora Aparecida do Norte do Paraná, na Vila Nova em Londrina.

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