Há não muitos dias, fomos abalroados com a notícia de que uma parte do baixo clero do empresariado nacional flertou com o golpe pós-eleição, pretensamente levado a cabo pelo candidato que mais o insinuou nos últimos anos. O verbo que usei não reflete surpresa nenhuma, embora de forte conotação na frase, pelo ineditismo da ação, que escaparia a qualquer script tradicional, uma vez que é impensável hoje admitir meia dúzia de cabos e jipes impondo pela força o candidato derrotado!

Anacronismos à parte, é hilário de fato que tenhamos ainda, nas nossas associações comerciais, gente que abomina a democracia e as suas instituições! Empresários e senhores do dinheiro, que em pleno 2022 considerem a hipótese de viverem num país isolado do mundo civilizado não são dignos desse nome! A democracia não é apenas um regime de governo: é o trilho por onde passam os trilhões de dólares do mundo capitalista globalizado, senhores empresários! Essa deve ser a primeira lição para quem abre uma empresa ou se propõe vender o seu milho mundo afora.

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Mas convém fazermos a pergunta. O que leva essa gente a apoiar atitudes insanas que, no máximo, resgatam a memória de um período histórico abominável para a maioria dos brasileiros? Não existe dificuldade na resposta! Há, simultaneamente, uma ilusão ótica alimentada pela mentira repetida muitas vezes e uma fobia, também ela nutrida por fakes disparadas por robôs criminosos!

Conhecemos o chamado desenvolvimentismo e nacionalismo dos governos militares, na continuidade do plano de governo de Juscelino Kubitschek nos anos cinquenta. Usaram um molde autoritário e deixaram de lado o desenvolvimento social para diminuir as diferenças entre a população. O foco na infraestrutura e na industrialização levaram a um aumento de empréstimos estrangeiros, gerando um processo de crise que explodiria mais tarde.

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A corrupção existiu! Porém, ao não ser exposta publicamente, gerou a sensação posterior no confronto com a democracia, de que de fato eram tempos idílicos. O apego à ditadura como período “estável e sério” não passa de um equívoco já ensaiado por Júlio César quando atravessou com as suas tropas o rio Rubicão! Por mais que tenhamos fardados bem preparados nas várias áreas, lugar de militares é no quartel servindo o Estado e não governos! O atual modelo híbrido instalado no Planalto só serviu para diminuir a Instituição castrense!

Por outro lado, a defesa escancarada da tese de que a esquerda é sinônimo de miséria e roubo, inviabilizando os negócios, não passa de uma fake gerada em laboratório e depois se agigantando nas mídias sociais com maestria criminosa! O uso de exemplos como Venezuela, Cuba ou até a Argentina é de um sofismo cínico incalculável. O leitor médio da FOLHA sabe definir rapidamente os processos específicos que levaram estes países a uma derrocada econômica e social.

Chaves e agora Maduro são apenas ditadores latino americanos praticando uma autofagia voraz sobre as riquezas nacionais. A Argentina foi assaltada por militares corruptos e pseudodemocratas, que a usaram para ensaiar planos de governo devastadores. Nicarágua ou Rússia! Nenhum comunismo! Nenhuma democracia! Ali sobram os autocratas de plantão que destruíram as instituições e o Estado de Direito para se manterem no poder. Nenhuma esquerda! Nenhuma direita! Termos aliás, esclerosados!

Me atrevo a dizer que estes senhores do dinheiro mofado são ínfima minoria no país! As elites inteligentes do Brasil observam o que acontece nos países europeus e inclusive nos EUA, onde há uma alternância de poder entre conservadores e progressistas e não se verificam convulsões dignas de registro. Empresários navegam em águas globalizadas tranquilas e o PIB mundial não cessa de crescer! O problema não é a esquerda! É o surgimento dos Putin, dos Trump, dos Recep Tayyip Erdoğan ou dos aprendizes fascistas pelo mundo afora! É desses que precisamos nos livrar para se ganhar dinheiro e viver em liberdade!

Padre Manuel Joaquim R. dos Santos, Arquidiocese de Londrina

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