Nesta segunda-feira, 26/10, diretores e diretoras de colégios estaduais de Londrina receberem, em reunião no Núcleo Regional de Ensino, a notícia de suas escolas foram “escolhidas” para serem cívico-militares. E mais: que as consultas à comunidade seriam realizadas na terça-feira, 27/10, 24 horas após receberem a informação. Ora, que consulta pública é esta que não conta com ampla divulgação? Que consulta pública é esta que não dá tempo hábil para professores e professoras, alunos e alunas, funcionários e funcionárias, pais e mães, enfim, toda a comunidade escolar estudar o projeto?

Aligeirar um processo que requer uma análise cuidadosa dos impactos para a educação de crianças e jovens estudantes é uma atitude anti-democrática. Se o projeto é tão bom assim, por que ele acaba com o ensino médio noturno quando temos tantos alunos e alunas trabalhadores e trabalhadoras que precisam estudar à noite porque trabalham para ajudar as suas famílias?

Se o projeto é tão bom assim, por que não verifica quantos alunos e alunas adolescentes participam dos programas de jovem aprendiz das empresas trabalhando meio período, e com a inclusão de uma sexta aula não terão tempo de chegar ao trabalho ou à escola? Nenhum e nenhuma adolescente trabalha “porque quer”; trabalha porque a realidade de suas famílias é muito diferente da realidade de deputados e deputadas que votaram em favor deste projeto, e é muito diferente da realidade do presidente da república, que passou 27 anos sendo deputado e nunca se preocupou com a juventude trabalhadora desse país.

Se o projeto é tão bom assim, porque ele encerra o turno noturno impossibilitando a oferta da Educação de Jovens e Adultos na escola quando o estado tem uma dívida histórica com estes e estas estudantes jovens, adultos e idosos que não puderam ou conseguiram estudar na infância? Fechar o noturno é negar direitos. Eu quero ver um mundo formado por cidadãs e cidadãos com formação política pautada nos princípios da cidadania, e isso não inclui formar “soldadinhos” nas escolas. Eu luto por uma escola inclusiva, que respeita a diversidade. Eu luto por uma escola cidadã. Militarizar não é a solução.

Gleisse Cristiane Serra Martins, professora da rede municipal de ensino de Londrina, coordenadora do Fórum de Educação de Londrina.