ESPAÇO ABERTO - Desenvolvimento nacional e local: importância das Engenharias.
Se quisermos nos desenvolver, temos que formar mais engenheiros em áreas de complexidade tecnológica.
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terça-feira, 19 de abril de 2022
Se quisermos nos desenvolver, temos que formar mais engenheiros em áreas de complexidade tecnológica.
Ivan Frederico Lupiano Dias
Se quisermos nos desenvolver, temos que formar mais engenheiros em áreas de complexidade tecnológica. Segundo a Unesco, a Rússia formava em 2015, 454 mil por ano, a China pouco mais de 400 mil e os EUA formaram 238 mil naquele mesmo ano. Mas os EUA atraem uma grande massa de cérebros já formados de outros países, inclusive do Brasil. A Índia, quinta do ranking, formava 220 mil. A Coréia do Sul quase 148 mil, isso em uma população hoje pouco abaixo de 52 milhões, e, portanto, quatro vezes menor que a nossa.
No Brasil, formamos em 2018 pouco menos que 120 mil!! De acordo com Ivan Guerra Machado, na revista Soldagem & Inspeção, vol.23, no.3, de 2018, na formação em engenharias que usam e desenvolvem tecnologias avançadas, como Mecânica, Metalurgia e Materiais e Eletrônica temos, no Brasil, “números ridículos” (expressão dele, a qual endosso e concordo): do total de formados no Brasil, além do pequeno número (120 mil) somente 11,5% deste total do país é formado em Mecânica e, novamente pasme o leitor, 0,3% para Metalúrgica e 0,7% para Materiais e Eletrônica.
Qual a solução? Política de Estado: 1) Criar mais engenharias nas IES (Instituições de Ensino Superior) públicas, 2) Aumentar o número de vagas, 3) Abrir mais universidades tecnológicas. Com prioridade absoluta para as engenharias. Estou falando de engenharias como a Mecânica, a Mecatrônica, a de Automação, a Elétrica, a de Materiais, a Metalúrgica, as ligadas à TI- Tecnologia de informação, Biomédica, Química.
Parto da premissa que nós, brasileiros, somos tão capazes quanto quaisquer outros de quaisquer outros países sejam eles dos EUA, Alemanha, Japão, China, Coréia do Sul, etc. E que há várias questões que discutimos, debatemos, deblateramos sem que nos aprofundemos na realidade de nossos erros e problemas estruturais.
De um lado atribuem a “culpa” aos lá de fora, de outro às “elites”; de outro ao “brasileiro vagabundo”; de outro aos políticos, de outro aos empresários atrasados e “safados”, de outro à classe média, de outro às nossas instituições de ensino e pesquisa, de outro às legislações disso ou daquilo, de outro à demasiada presença do Estado, de outro à pouca presença do Estado, etc. É tanto “a culpa é deles”, sem olhar para nosso próprio umbigo, para nossa realidade, para nossos verdadeiros problemas estruturais que a inércia se evidencia em toda sua plenitude e os erros se perpetuam.
Os verdadeiros problemas sempre ficam à distância, ao largo de nossas possibilidades de intervenção. Não se consegue identificar com precisão qualquer problema, fica tudo “no ar”! Discute-se, discute-se, xinga-se, xinga-se e é só.
Como mostrei com os dados acima, no referente às engenharias e industrialização, há questões por enfrentar que independem se o governo é de direita ou esquerda, democracia ou ditadura, civil ou militar, do Ocidente ou do Oriente, capitalista ou socialista.
Se não houver cultura e propósito e se analisar as reais questões que precisam ser enfrentadas, no contexto de uma sociedade do conhecimento, para nos tornarmos soberanos, minimamente independentes, nada será conseguido em termos de desenvolvimento.
Nossas IES públicas, em especial a UEL, devem ajudar a suprir essa deficiência, pelo menos em nível local encaminhando propostas de abertura de cursos tão necessários, como por exemplo, o do curso de Engenharia Biomédica, ao Estado. Nossa sociedade civil organizada deve se empenhar para que o Estado, apesar da LGU (Lei Geral das Universidades), nos garanta as condições necessárias ao bom funcionamento do curso. É possível fazer!
Ivan Frederico Lupiano Dias foi pró-reitor de Recursos Humanos (PRORH) e de Pesquisa e Pós graduação (PROPPG) da UEL e é um dos fundadores da ADETEC (Associação para o Desenvolvimento Tecnológico de Londrina e Região)