A turbulência sempre esteve presente no nosso cenário político institucional. Ditadura civil, ditadura militar, impeachments, mandatos tampões, regime parlamentarista, deposições e suicídio de presidente marcaram a luta dos brasileiros pela conquista de uma democracia madura, perene e que nos coloque definitivamente no patamar dos países altamente desenvolvidos.

Todavia, o curso do nosso sistema político eleitoral tem sido ingrato com o desejo dos brasileiros. De um lado, uma classe política tomada, em sua maior parte, por quadros de baixa intelectualidade, politiqueiros e desprovidos de probidade e, de outro, um eleitorado cuja grande parcela é despolitizada e que não consegue votar conscientemente.

Os últimos 18 anos resumem muito bem como essa desordem político administrativa governamental maltrata a nossa gente, arruína as nossas instituições e destrói o país. Foram 16 anos dos governos mais corruptos da nossa história. Cifras bilionárias saqueadas do Tesouro Nacional, das empresas estatais, das obras da Copa do Mundo e Olimpíadas, entre outras.

Além disso, a quadrilha instalada no poder despejou dinheiro brasileiro em obras de infraestrutura de outros países, alinhados ideologicamente com a esquerda daqui, em detrimento ao nosso desenvolvimento. Roubaram o Brasil, impiedosamente.

Desesperados com a gigantesca bandalheira vivida nesse período de escancarada corrupção, elegemos um candidato que se dizia o paladino da moral e que prometia ser ferrenho no combate à corrupção. Porém, já nos primeiros dias de mandato percebemos que ele não havia descido do palanque ao lançar a sua candidatura à reeleição, em 2022.

Logo, nos primeiros meses como presidente da República mostrou quão medíocre seria o seu governo. Ao invés de se preocupar com problemas macros que afligem o país, preferiu proibir o uso de radares móveis e portáteis de fiscalização de trânsito, ordenando o desligamento dos limitadores de velocidade nas rodovias federais, tachando-os de armadilhas e de indústria da multa.

Aí já começava demonstrar a pequenez da sua agenda de trabalho, o que se observa até os dias de hoje. Poucos meses depois foi atingido em cheio no seu calcanhar de Aquiles, quando denúncias de corrupção atingiram seu filho senador. Buscou socorro na cúpula do Judiciário e foi estimulado a fazer as barganhas imorais para salvar o primogênito, comprometendo a sua promessa de acabar com as imoralidades na governança no país.

Importantes instrumentos de fiscalização, que detectam a corrupção e os corruptos, foram desmobilizados para atender interesses escusos do parlamentar da "rachadinha" e de outras autoridades envolvidas em falcatruas. Desmontado todo esse aparato, o prometido combate à corrupção fez água e o presidente coroou a sua infidelidade com a seguinte frase: "Eu acabei com a Lava Jato". Foi o presente que ele deu aos parlamentares envolvidos com corrupção, para apoiá-lo no Congresso. Jogou no lixo um árduo e eficaz trabalho de 5 anos de moralização das nossas instituições e de recuperação de bilhões de reais desviados.

Então, chegou a pandemia. Desta vez, com muita ênfase, desabrochou todo o despreparo do candidato que elegemos em 2018. Um verdadeiro show de incompetência, inconsequência, intempestividade, bizarrices e inaptidão para liderar escancarou a face inepta da nossa maior autoridade.

Nem a dor e o luto dos brasileiros tocaram a sensibilidade do presidente; pronunciamentos e atitudes infelizes revelaram uma crueldade sem precedentes ante a dimensão da tragédia humanitária que nos assola. Posturas até então inimagináveis para um ocupante da presidência causaram perplexidade à população.

Diante de tantas incertezas pela constância de um comportamento impróprio de um governante mor, pelo desmedido potencial em gerar crises e conflitos e pela imensa facilidade que tem de afirmar algo de manhã e desdizer à tarde, o restante do seu mandato é uma colossal incógnita. Com tanta gente talentosa e verdadeiros ícones em suas áreas apeando da equipe de governo, dificilmente acontecerão as necessárias reformas e privatizações que proporcionarão um expressivo impulso ao nosso desenvolvimento.

Mais uma vez vamos tentar consertar o estrago no próximo pleito eleitoral. Precisamos de um grande líder, um autêntico estadista para conduzir o Brasil rumo ao desenvolvimento tão almejado, mas que insiste em não se concretizar. Esperamos estar gozando de uma plena democracia em 2022, o que, dada as atuais circunstâncias e indícios, não se pode ter tanta certeza assim.

Ludinei Picelli (administrador de empresas) Londrina