Sabe-se que a saúde mental de modo geral vem sendo cada dia mais afetada em meio a pandemia que vivenciamos, são inúmeras as consequências para todos os grupos sociais. Com relação a infância, temos inúmeros profissionais alertando para os riscos no desenvolvimento, na aprendizagem, entre tantos outros.

A escola tem se tornando cada dia mais protagonista de faltas, principalmente como falta de um lugar para pertencer. É desse pertencimento que quero falar aqui, porém com enfoque aos nossos adolescentes e jovens universitários, o quanto a juventude de modo geral tem encarado essas consequências de não pertencer a algum lugar.

Para um adolescente, saber que pode contar com seu melhor ou melhores amigos é tudo o que se precisa, o imediatismo é protagonista nessa fase, é como se o amanhã ou a concepção de futuro estivesse ainda muito distante para tomar conta de seu presente. Por isso, nessa fase tudo é tão evidenciado, os conflitos aparecem muito mais do que na vida de um adulto. Nessa fase cada dia se mostra um novo desafio, tanto com relação ao corpo (as mudanças hormonais e físicas) quanto na mesma proporção ou melhor, até mais no que se refere ao psicológico. E é justamente no psicológico, onde muitas coisas se perdem, onde a maioria dos jovens ao não encontrar rapidamente o alívio para seus conflitos entram em um ciclo de sintomas, entre os mais conhecidos, estão os distúrbios alimentares, a depressão, ansiedade e por aí vai...

Nesse recorte geral, soma-se a isso uma pandemia, que isolou e recolheu para dentro de casa todos os jovens cuja atividade principal de sua rotina era a ida para o colégio ou faculdade, veja que o resultado final ficou pesado demais para uma fase tão delicada, não é mesmo? É exatamente isso, pesado ao ponto de elevar todos aqueles sintomas antes já vividos ou ao desencadeamento de novos.

O isolamento social necessário para conter os avanços dessa doença que nos assola, leva também a enclausurar os jovens muitas vezes no “olho do furacão” de seus conflitos, ou seja, sua casa de onde muitas vezes era preciso sair para ter um respiro e se fazer um indivíduo lá fora, agora já não existe mais essa opção.

É comum que eu receba no consultório os mesmo discursos, “não tenho mais privacidade”, “me sinto muito sozinho”, “quero acabar com tudo”, “não tenho vontade de fazer mais nada, nem de acordar”. Aí chegam as soluções possíveis, por exemplo, a “tecnologia que aproxima”, mas o que percebo a cada dia é que essa tecnologia tem criado um distanciamento ainda maior da realidade, no caso da juventude, acaba se tornando muito arriscado esse depósito de esperanças nas redes sociais o que acaba gerando muitas vezes, ainda mais frustrações e deixando ainda mais vazios.

Muitos adolescentes também relatam o quanto os medos e a depressão estão mais intensos, medo de como vai ser voltar às aulas (conflito entre saúde mental e saúde física), receio do futuro (se terão algum), angustia de suportar o presente sem nada de bom para extrair, sentimento de inutilidade, etc...

O cenário psicológico da nossa juventude vem se mostrando cada dia mais preocupante e aguardar tudo isso passar não vem se fazendo eficaz, calar esses sentimentos acaba bagunçando ainda mais. É preciso dar lugar para esses conflitos, auxiliar a organização psicológica dos jovens nesse momento ainda mais delicado de suas vidas.

Precisamos compreender o sofrimento psíquico envolvido, o quanto para nós, enquanto adultos, também está sendo assustador enfrentar tudo isso, mesmo com uma organização mental mais fortalecida, então imagine-se na idade de seus filhos em meio ao que estamos vivendo. O acolhimento se faz extremamente necessário! Ofereça ajuda aos jovens de sua casa, acolha seu sofrimento e se não conseguir por colidir com os seus conflitos, o que é algo natural, não se culpe por isso e busque ajuda profissional. Não podemos mais negligenciar e silenciar nossos jovens, eles precisam de um lugar seguro para existirem. Eles podem não ser o grupo de risco para o COVID-19, mas tem sido para a saúde mental.

Amanda Dias, psicóloga em Londrina