É evidente que a pandemia da Covid-19 tem impactado sobremaneira a vida de toda a população, e que essa crise não atinge da mesma maneira a todos, visto que nossa sociedade é marcada por profundas disparidades de classe, raça e gênero. Assim, os segmentos mais pauperizados da classe trabalhadora são os mais afetados.

Em nossa cidade, o Hospital Universitário (HU) tornou-se referência em nível terciário para os casos de Covid-19, passando por diversas mudanças que foram acompanhadas pelas diferentes áreas que compõem a equipe de saúde. Uma delas foi o Serviço Social, que inicia sua história junto com a construção do HU, em 1971. A profissão de assistente social no Brasil atende a variados espaços sócio-ocupacionais, sendo as áreas de saúde, assistência social e previdência as que empregam a maioria desses profissionais.

Na saúde, o Serviço Social é interventivo e analítico, atuando nas expressões da questão social e buscando a identificação dos aspectos econômicos, políticos, culturais e sociais que atravessam e interferem no processo saúde-doença para, assim, mobilizar recursos para o seu enfrentamento, articulado a uma prática educativa.

As assistentes sociais do HU atuam em inúmeras “linhas de frente”, tanto nas unidades de Pronto Socorro (PS), no Hospital de Retaguarda (HR), nas enfermarias e no ambulatório e, desde o início, participaram da criação de protocolos e construção de estratégias voltadas às ações específicas da área. Na pandemia, o foco do trabalho foi voltado ao acolhimento e atuação na perspectiva de conhecer as condições de vida do usuário do serviço e de sua família.

O profissional de Serviço Social é quem conhece e faz a articulação com a rede de saúde nos diversos serviços socioassistenciais e busca a intersetorialidade das políticas no contexto da pandemia, visando defender a garantia de direitos dos usuários e benefícios, por exemplo, o auxílio emergencial. Busca-se conhecer de perto as necessidades das famílias e o território em que vivem, além de compreender as condições de habitabilidade para cumprir as medidas sanitárias de isolamento social e de preparação dessa família para a alta.

Comparando-se os primeiros quadrimestres de 2020 e de 2021, identificamos aumento expressivo do número de atendimentos sociais aos pacientes e familiares. De janeiro a abril de 2020 foram 1554 atendimentos sociais e, nesse mesmo período em 2021, foram 4625. Em março de 2020 era uma assistente social que se dividia entre o PS e outra unidade, mas hoje são três assistentes sociais nessa unidade, trabalhando todos os dias, inclusive aos finais de semana.

Uma das demandas do paciente com Covid-19 que aumentou exponencialmente foi a necessidade de uso de oxigênio domiciliar após a alta hospitalar. Nesse caso, a assistente social atende a família com o intuito de conhecer a realidade para instalação do oxigênio e identificação do cuidador, requisito necessário para que tenha acesso ao mesmo, além de providenciar e encaminhar a documentação aos programas municipais de assistência domiciliar.

Tem sido desafiadora para as assistentes sociais do HU a demanda dos familiares quando se trata de pacientes que vão a óbito. Ainda que a comunicação do óbito seja atribuição do médico, temos atendido as famílias após a saberem do ocorrido, já que em casos de Covid-19 existem restrições para a realização do funeral.

Essa impossibilidade de velar o ente querido tem impactado profundamente as famílias e, assim, diante das atuais restrições, o hospital tornou-se o local onde o familiar realiza a despedida quando ocorre o reconhecimento do corpo. Soma-se a isso a morte de pessoas mais jovens e de mais de uma pessoa da mesma família, com impacto não só emocional como, também, financeiro.

Por fim, são vários os desafios e as dúvidas quanto ao controle da pandemia de Covid-19, mas temos uma certeza: continuaremos firmes no HU, atuando no acolhimento às famílias e na perspectiva de defesa dos direitos dos usuários desse complexo hospitalar.

Em 15 de maio comemora-se o Dia do Assistente Social, são tempos de valorizar ainda mais o serviço prestado por esses trabalhadores essenciais!

Argéria Maria Serraglio Narciso e Maria Lucia Maximiano, assistentes sociais do HU de Londrina

A opinião dos autores não é, necessariamente, a opinião da Folha de Londrina.