Imagem ilustrativa da imagem ESPAÇO ABERTO - Amar os filhos…
| Foto: Filippo Monteforte - AFP

É impressionante perceber à atitude que a imprensa mundial adota quando o Papa Francisco faz referência a termos como: orientação sexual, animais domésticos e ecologia. Cada vez que o Papa se pronuncia sobre estes temas os comentários são completamente mal interpretados e aquilo que é pior colocam nos lábios do Papa expressões e reflexões inexistentes.

O problema é hermenêutico e não teológico, muito menos sociológico ou moral. Todos os seres humanos deveríamos ser hermeneutas, quer dizer, deveríamos ter a capacidade de interpretar os fatos como são. Assim o afirma J.F Lyotard, o Pai da filosofia pós-moderna: “uma frase solta não tem nenhum conceito é só um acontecimento”. Só isso.

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Para compreender o que o Papa afirmou na audiência geral do passado 26/01/22 temos que levar em conta alguns pontos. Primeiro os detratores do Papa só pegaram uma frase e sobre ela se deitaram e criticaram, condenaram e deram por válidas as suas interpretações, desligando da verdade e do contexto aquilo que o Papa Francisco teria pronunciado. Depois é evidente que nenhum dos jornalistas que criticaram e deformaram o conteúdo da reflexão se tomou o tempo para ler a exortação apostólica Amoris Laetitia onde o Papa expressa claramente qual é o significado do amor que se torna fecundo.

Desconhecem o capítulo V do mesmo documento e claro não se detiveram a entender qual é o contexto do significado do termo filho; contido no numeral 188 da mesma exortação. Um pontífice não faz magistério por fazer; um Papa não fala por falar. Todas as suas comunicações sempre são continuidade de uma reflexão já amadurecida, meditada e sobre tudo sustentada na própria Palavra de Deus. O magistério ordinário de um Papa não é produto de “achismos” e impressões aleatórias. Por último uma audiência geral é uma catequese, então antes de criticar um ponto devem analisar e avaliar os temas das catequeses já elaboradas.

No dia 19/01/22 O Papa Francisco fez referência a São José dizendo: “Hoje gostaria de aprofundar a figura de São José como pai na ternura”. No dia 26/01/22 o Papa fez referência a um novo tema sobre São José: “Hoje gostaria de me concentrar na figura de São José como homem que sonha”. Refletindo sobre as lutas de cada dia o Papa faz um aceno coloquial sobre os pesos que todos os pais vivem na sua vida em relação aos seus filhos. Entre elas: “Pais que veem orientações sexuais diferentes nos filhos; como gerir isto e acompanhar os filhos e não se esconder numa atitude condenatória”.

Uma reflexão apropriada e sensata sem nenhum tipo de direcionamento. Sabemos que em muitas das nossas famílias quando um dos filhos ou filhas expressa dificuldades ou realidades adversas por causa da sua orientação sexual, os primeiros em tentar ajudar e muitas vezes em tentar entender o que aconteceu são os próprios pais. Fazer uma pergunta sobre o assunto não é sinônimo de ter uma resposta já elaborada; nem muito menos definir a situação. O Papa só quis dialogar com os pais de família sobre uma realidade que em muitas famílias já é vivida e sofrida e sobre a qual a luz dos sonhos de São José poderíamos fazer uma reflexão espiritual. Em outras palavras como tendo São José como exemplo os pais poderiam dialogar com seus seus filhos sobre a bela dimensão da sexualidade.

Os detratores de Francisco estão cada vez mais distantes de compreender e aprofundar a sua sadia teologia que por sinal cada vez mais nos possibilita de aprofundar realidades tão urgentes e exigentes como a da família. Afortunadamente, os cristãos e cristãs devemos ser cada vez mais conscientes de que testemunhar oposições é sinal de testemunhar contingências; é aprender a sentir que no meio de tantas “falsas certezas” a grandeza da Verdade se constrói. A verdade nos liberta e nos cumula de alegria. Não devemos ter medo de ir na contramão de uma sociedade que ama se sentir escandalizada; ama montar os seus palcos para o show de falsos moralismos, mas que no fundo tem medo da moral das bem aventuranças que exige proclamar a felicidade aos puros de coração mesmo que seus rostos estejam enlameados e sofridos pela própria realidade familiar.

Como é bom ter a liberdade de espírito para poder anunciar a Alegria do Amor.

José Rafael Solano Durán, sacerdote da Arquidiocese de Londrina

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