David Bowie, vivo estivesse, completaria hoje (08/01/2022) setenta e cinco anos. Faz muita falta o gênio inglês de traço esguio e personalidade humanista. Em tempos de cavernícolas que se aglomeram sem máscara e negam a ciência, pregando contra a vacina, Bowie luziu feito um farol de fantasia...

A Odisseia espacial já não é a mesma sem ele – tampouco as estrelas. Hoje quem fala da galáxia e espia os planetas é um dos herdeiros da plutocracia. Elon Musk.

O nababo quer levar você para Marte e eu me pergunto: Que pecado a humanidade cometeu para trocar seu eixo?

Também hoje, 08/01, é aniversário do brutal assassinato da poetisa paraguaia Soledad Viedma, vítima de tortura e barbáries muito além das conhecidas, praticadas por agentes da ditadura brasileira – essa que muito novilho gordo autoriza por escrito, em cartaz levantado sobre o próprio cupim.

Para a malta ignata o messias pode desandar com tanques nas ruas e locais de tortura (singularmente conhecidas enquanto casas ustra) que o bacana de pullover autoriza. Pode isso Arnaldo?

A propósito: Foram tantas e tamanhas (as agressões) que Soledad expeliu seu feto na agonia da dor...

Entre o aniversário de vida de Bowie e o de morte de Soledad, antevejo um arco íris que não se aventura a enfrentar o cinza da vida. Há tanta tristeza em nossa era de incertezas que Stephen Hawking (que também aniversariaria hoje, 08/01, vivo estivesse) identificaria em buraco negro a onda fascista que vem tangendo o gado pelo hemisfério sul...

Hawking, a par ser doutor em cosmologia e professor lucasiano (cátedra matemática) emérito na Universidade de Cambridge, passou as últimas cinco décadas lutando contra doenças degenerativas que, enfim, venceram a batalha em 2018. Pela visão eugênica dominante nos regimes totalitários (nazismo e fascismo), que são os modelos de gestão que as ditaduras latino americanas buscaram na tutela do pensamento único, Hawking seria preso em campo de concentração e morto de alguma forma – pense nisso, oh rês ignata, antes de autorizar seu mito de estimação a alimentar a cadela fascista...

Além da data de aniversários de vida e de morte, há uma coincidência que liga ambos e é disso que quero falar – ou melhor: ouvir...

‘Aqui estou eu, flutuando em volta de minha lata (nave espacial). O planeta é azul e não há nada que eu possa fazer’, disse o major Tom pela voz/letra de Bowie, em sua grande música (Space Oddty). No ponto, Hawking teria destacado (destacou, inúmeras vezes) que a terra é redonda. Já Soledad nos bastou a escrever: ‘Mãe, me entristece te ver assim, o olhar quebrado de teus olhos azul céu, em silencio implorando que eu não parta’...

Homem e mulher, em suas mais diversas e distintas manifestações de apreço e apego à vida, sempre miram o céu e falam dos azuis e do brilho que vem do desconhecido.

Uns por sua veia poética (Bowie e Soledad), outros pelo fascínio do conhecimento (Hawking). E você, que pensa estar contribuindo com uma qualquer causa grandiosa autorizando seu mito de estimação sair às ruas com os alemães e seus canhões, qual é a cor dos teus anseios? Tens medo de que? Da própria ignorância?

Leia. Leia muito. Sempre literatura. Que a vida muda...

Tenho incomodado alguns por minhas falas nesta Folha (cuja pareceria e respeito à independência de meus pensamentos reconheço e agradeço na pessoa de sua fabulosa redatora chefe). Assim é que perdi algumas relações e hoje já não sei a cor dos olhos de nossos dias de tragédia...

A pandemia parece ter se reinventado por meio de nossas fragilidades e, na medida em que máscara e distanciamento social são para a elite pensante do país (que gado considera pensante tudo o que não rumina), ‘vocês que fazem parte dessa massa’ precisam se reinventar. Senão lendo (sei, as vezes cansa e é difícil, afinal para que escrever mais de vinte linhas?), talvez usando máscara e não se aglomerando...

Miguel Nicolelis (este vivo e bem vivo), brasileiro considerado um dos vinte maiores cientistas em sua área pela Scientific American, revista especializada no tema, adverte em artigo recente: ‘não basta vacinar (embora seja primordial e indispensável); é preciso usar máscara e manter o distanciamento social...

Não há segredo, há comprometimento pela vida. Vida que, agora, reclama vacinação de nossas crianças. Todavia há gente que contraponha avanços científicos com o breu terraplanista, mitigando a proteção da vacina, o uso de máscara e o distanciamento social que ainda são imprescindíveis – e ninguém está dizendo que tudo isso é fácil...

Cansado de tanta imbecilidade ignorante (não é um pleonasmo, suposto que nem todo ignorante é imbecil, ainda que todo imbecil seja ignorante) busco no Major Tom e em sua odisseia espacial o que teria salvado a vida de Soledad: empatia, respeito, luz, conhecimento. Mas um buraco negro tangendo a aflição dos ignorantes contrapõe a noite escura que não liberta – antes oprime e explora...

Tristes e tangíveis trópicos, onde a ignorância pavimenta o caminho de nosso cadafalso enquanto a turba segue ao som do berrante. Vacina, distanciamento social e uso de máscara não são negociáveis.

Fascistas não passarão!

João dos Santos Gomes Filho, advogado