“A paisagem é expressão de valores culturais e simbólicos, de ações sobre uma localidade num determinado espaço de tempo”, segundo Meinig (1979).

Tenho uma foto que tirei do Patrimônio Warta há vinte anos.

Num primeiro plano, um vale com extensa plantação de soja. Lá ao longe, no espigão, sobressai um conjunto de frondosas mangueiras. E, no meio delas, a torre pontiaguda de uma igreja. Formava um conjunto de forte personalidade, forte caráter. Lembrava para alguns uma cena medieval.

Tempos atrás, essa vista foi desenhada na fachada de um restaurante alemão na beira da PR 445 ali perto. Mostra um dia de colheita de trigo tendo ao fundo o patrimônio. Paisagem da memória. Paisagem a preservar.

O patrimônio Warta tem uma planta em forma de losango. O limite leste aproveita uma curva da antiga estrada Boiadeira. A forma é rebatida no limite oeste. O espigão, eixo central do losango, define a avenida Londrina, a principal. Uma grande praça marca o centro.

Não se sabe ao certo a autoria do projeto de Warta. Mas, o seu traçado preliminar aparece esboçado na Planta Parcial n.1 Colonização das Glebas dos Ribeirões Tres Boccas, Jacutinga e Vermelho de autoria de Alexandre Razgulaeff (CTNP, 1934 a 36). Apresenta o cotovelo da estrada, a rua principal e praça quadrada chanfrada. Pelo partido da planta que aproveita e incorpora uma estrada antiga (Boiadeira), é possível afirmar que trata de projeto de autoria do próprio Razgulaeff. É um tipo de traçado “resultado da intuição, de observação e sensibilidade estética” (Claval, 2013).

Pouco conhecida é a “Planta da Colônia de Heimtal” ou Núcleo Colonial Heimtal (1930). Mostra um módulo de colonização em Núcleos Coloniais que antecedeu ao sistema de Glebas da CTNP. Uma estrada de automóveis (antigo ramal 2 da EFCP ajustada) atravessa a Colônia de Norte a Sul. A cópia da planta traz manuscrito, em lápis de cor, “Heimtal e Tschecoslovasche Novo Vlast”. Novo Vlast na área onde seria projetado o Patrimônio Warta. Consta que, em junho de 1931, “eslovenos” compraram 1 000 alqueires de terras. Estornam todavia 900 alqueires no ano seguinte.

icon-aspas O patrimônio Warta tem uma planta em forma de losango. O limite leste aproveita uma curva da antiga estrada Boiadeira

Caminhar pela Warta é identificar uma densa paisagem cultural. Mas, é preciso saber interpretar.

Parar na entrada da Warta. Do lado direito, uma estrada de saibro segue contornando a meia encosta. Uma centenária paineira marca o limite e a direção da estrada Boiadeira. Ao redor, as estreitas faixas de terras de 10 alqueires subdivididas pela CTNP continuam reconhecíveis.

Na avenida principal, observar os telhados de forte inclinação. Casas de madeira e alvenaria com varandas recortadas e esquinas chanfradas sucedem. Um antigo açougue, de uma porta só, inteiramente azulejado. Segue tipologia tradicional na região. Através das copas das mangueiras dos quintais posso ver o horizonte. Estamos num alto! Como sorte conseguirá ver Londrina ao longe.

Seguir pela avenida no espigão. Chegar em frente à praça principal. Ali está a igreja com a torre monumental, a escola de madeira, o antigo terminal urbano e comercio tradicional. No silencio do lugar, poderá sentir o vento que sopra forte e ouvir a badalada dos sinos da igreja.

Aventura urbana Warta. Paisagem como Patrimônio.

Humberto Yamaki - Coordenador do LabPaisagem UEL