Em qualquer feitio a morte é um assunto indigesto de encarar: complexo para se escrever, embaraçado para falar e aterrorizante somente de pensar, porque, apesar de ser um acontecimento natural, esta diretamente ligado a sentimentos ruins, como a dor, com a fraqueza diante toda a situação, a saudade e ao sofrimento.

Na idade média a morte era considerada como um fracasso do ser humano, talvez por isso, hoje, o medo de morrer bloqueia automaticamente os pensamentos sobre o assunto. Arthur Schopenhauer (1788-1860), notório filósofo iluminista e existencialista, registrou: “Morrer é um absurdo”.

Nós precisamos refletir sobre a morte.

Não é ato pessimista, mas, pedagógico. Para valorizar a vida é preciso entender que existe morte. Que somos finitos neste mundo.

Antoine de Saint Exupéry (Lyon; 1900 -1944), piloto e escritor francês, autor do best-seller “Le Petit Prince” (O Pequeno Príncipe, 1943), escreveu antes desta aventura planetária, o Livro “Terre des Hommes” (Terra dos Homens, 1939). Uma obra que ilogicamente não tem a mesma envergadura na leitura mundial, apesar de ser o prelúdio do que ocorreu com o principezinho. Porém, dentre os temas, há uma forte imaginação sobre a morte.

Em Terra dos Homens, Saint Exupéry faz reflexão o tempo todo sobre o medo da morte. É uma aventura necessária para ler, onde um jovem piloto da Air-France passa por diversas adversidades durante voos solitários. Que então ele incide a pensar que a vida só passa a ter sentido, se soubermos o que é a morte.

Voltando à reflexão desta prosa. O tema é difícil, exige paciência para compreender. Como já dito, grandes pensadores, inclusive os maiores da história, tiveram dificuldades para anotar sobre.

Para piorar, a traiçoeira pandemia que agravou toda a vida humana impôs uma interrogação no tema morte.

Com a crise da saúde, provocada pelo Sars-Cov-2, a questão martela ainda mais e diariamente nossas casas, via as notícias de meios de comunicação ou de alguém próximo que não venceu a batalha. Que normalmente ocorre de forma repentina, sem explicações e oportunidades para um último abraço.

Na idade média, sem eletricidade, cada pessoa levava sua vela para acompanhar o enterro, então chamavam de velório. Com o tempo, o ato de velar o corpo, se tornou um importante momento final com a pessoa que se foi.

São as últimas homenagens; se houveram problemas na relação pessoal, há pedidos de desculpas; são os agradecimentos pelos momentos felizes; e votos de continuação da vida na melhor forma possível.

Assim, a morte é ainda mais dolorosa quando não há oportunidade dos cortejos fúnebres de despedida. Ver um ente querido entrar no hospital andando, e dias depois sepultá-lo com caixão lacrado e com tempo cronometrado, nasce o pior sentimento de incapacidade possível, da incerteza e de não ter o que fazer para responder algumas perguntas.

O vazio interior comum que a morte traz, fica ainda maior.

O sentimento de luto passa a ser eterno, como se a despedida nunca tivesse acontecido, e no fundo do pensamento, acaba gerando a ilusão que a pessoa logo voltará para casa. E isso é muito ruim.

Não fuja da meditação antecipada da morte, porque é algo natural, e não ocorrerá somente com você – mas com todos. Reconcilie-se internamente.

Por fim, quando você aceita que a vida terá um fim, você viverá o presente de verdade e com vontade. Não irá procrastinar o pedido de desculpas, não perderá oportunidade de agradecer os momentos felizes. Viva, exista e faça a vida valer a pena.

Ronan Wielewski Botelho, filósofo, de Londrina

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