As pessoas especiais ou portadoras de alguma deficiência não conhecem limites, porque elas estão sempre em busca da superação, por compreenderem muito bem que para elas as dificuldades nunca terminam.

O querer torna-se uma obstinação, um poder que não enxerga obstáculos. Alguém já disse que o querer é sempre uma conquista individual, pois não se pode querer pelos outros.

É a sociedade que cria o maior obstáculo: o preconceito em relação a essas pessoas. Somos nós, seres ditos normais, os primeiros a impor a elas as maiores limitações.

O fato de portar óculos não significa dizer que eu não consigo enxergar. Tenho sim uma deficiência, sem óculos, mas com ele, torno-me uma pessoa absolutamente normal, no entanto, em razão de usá-lo, as pessoas pensam de forma diferente, donde nasce o preconceito.

Outro dia, fui a uma loja, e enquanto aguardava para pagar a mercadoria, chamou-me a atenção uma funcionária que prestava um atendimento fantástico aos clientes. Ela não tinha a mão esquerda, mas era a mais eficiente de todas as atendentes. Era a única a dar atenção geral.

Ao mesmo tempo em que desempenhava sua tarefa, olhava para todos, sorria com alegria e simpatia e pedia só mais um pouquinho de paciência, enquanto as outras colegas, cabisbaixas, sisudas, limitavam-se a atender friamente àqueles que ali estavam. Nesse contexto, via-se claramente, que a limitação estava justamente na outras e não nela.

A sociedade como um todo precisa tomar consciência dessa realidade e mudar as formas de ver e pensar em relação às pessoas portadoras de deficiência, principalmente esse sentimento absurdo de piedade, porque não é disso que necessitam.

Para iniciar-se um processo de mudança é necessário, primeiramente, ter sensibilidade, que é o primeiro estágio anterior à conscientização.

Na Europa, essa sensibilidade antecedendo à conscientização é muito grande, porque é um continente que já passou por 2 (duas) guerras e aprendeu a viver e a preocupar-se com pessoas mutiladas e que precisam ser reinseridas na sociedade e tratadas com naturalidade.

Se observarmos atentamente, veremos que tragédias que deixam pessoas paraplégicas ou tetraplégicas são, na sua imensa maioria, acontecimentos modernos, resultados de acidentes automobilísticos, violência urbana, esportes radicais ou outras imprudências praticadas geralmente por pessoas mais jovens.

O livro intitulado “A felicidade das borboletas” conta a história de uma criança cega, que gostaria que todos pudessem enxergar como ela: com o coração.

É assim mesmo, porque o amor não vê com os olhos, vê com a alma. O coração é o órgão da fé, o órgão da esperança, o órgão do ideal. Homens tornam-se homens pela inteligência, mas só são homens pelo coração.

Claudine de Oliveira, funcionário público estadual aposentado, Apucarana