ESPAÇO ABERTO - A Luz do Natal nos interpela
Na noite santa, reflita de que lado você está! Então, será Natal!
PUBLICAÇÃO
quinta-feira, 22 de dezembro de 2022
Na noite santa, reflita de que lado você está! Então, será Natal!
MANUEL JOAQUIM R. DOS SANTOS

São múltiplos os olhares sobre o Natal! A 25 de Março em São Paulo, com certeza, o observa sob uma ótica que os monges trapistas de Santa Catarina ignoram totalmente! E vice-versa!
Os não crentes pelo mundo afora globalizado, pouca ou nenhuma atenção darão à data, embora possam até se deliciar com banquetes assinados pela tradição ou por algum viés cultural! Não temos como negar, porém, que o Natal é uma festa cristã, assumida por uma civilização ocidental já “descristianizada”!
Faz-se necessário, portanto, mergulhar na essência da festa que celebramos. Há luzes que nos aproximam de Belém e outras que nos desviam do foco. Aliás, ofuscados pela intensidade de tanta iluminação, raramente os nossos olhos enxergam o caminho interior do Encontro!
É disto que trata o Natal! Encontro! Sabemos que o ponto de encontro foi escolhido pelo visitante. Belém, a terra do pão, em seu significado etimológico! “Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu filho nascido de uma mulher” (Gl 4,4). “E tu Belém?! De modo algum és a menor entre as capitais, pois de ti sairá o guia que apascentará o meu povo” (Mt 2,6). Deus visitou o seu povo num encontro único, chamado pelos cristãos de encarnação: “E o verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14)


Lemos na Escrituras que os homens encontraram Deus quase nu numa manjedoura! Pessoalmente, continuo acreditando que esse Deus surpreendeu os homens escondendo a sua nudez, tal qual a cena poética do Gênesis! (Gn 3,7-10). Já lá vão dois mil anos, após o evento que dividiu a história em antes e depois e os humanos continuam se cobrindo de vergonha!
Natal é luz que dissipa as trevas da ignorância, do erro, da discórdia, do preconceito, do ódio e da intolerância. Por isso, o Natal nos iluminando, revela-nos tal qual somos! Não podemos esconder a nudez das nossas guerras fraticidas, das desigualdades gritantes de oportunidades, das várias fomes dilacerantes que matam, de modo especial a do estômago.
Não podemos esconder-nos atrás do desenvolvimento científico e tecnológico, frequentemente usado para a destruição. Não temos como olhar de frente, para um Deus que chora ao perceber as incongruências de uma civilização que devia ser de amor e é de morte! A luz do Natal é questionadora e não se coaduna com as trevas que cobrem o mundo. “O povo que andava em trevas, viu uma grande luz, e sobre os que habitavam na região da sombra da morte resplandeceu a luz”. (Is 9,2). Na mística do Encontro, sabemos que a escuridão não passa disso: ausência de luz! Entendemos assim, porque as tradicionais representações natalinas, enchem o universo de estrelas e embora se pressuponha uma noite fria, elas a transformam num espetáculo literalmente divino!
Neste artigo, quero dar o crédito ao meu irmão mais velho, o pastor Messias, que exatos trinta anos atrás, enquanto animávamos a celebração natalina numa agência da Caixa Econômica, me ensinava uma lição que carrego até hoje. Não dá para tirarmos os enigmáticos magos do quadro que emoldura o nascimento de Jesus! Eles seguem uma estrela! Vão até Belém e adoram o Menino! Diz Mateus, que era gente importante. E deve ser tão verdade, quanto a humildade que dobrou os seus joelhos no chão daquele estábulo! A saber: a verdadeira nobreza de alguém, se reflete na reverência ao Criador! Na continuidade, se diz que os magos, “avisados em sonho, seguiram por outro caminho” (Mt 2,12). Lembrava-nos, então, o grande Messias da Presbiteriana, que quem se encontra verdadeiramente com o Messias esperado por Israel e nascido em Belém, volta sempre por outro caminho! Quantas lições aprendemos com os Messias! Inclusive com o meu irmão, patrimônio londrinense!
Caros leitores da Folha! Lá como cá, existem os que vibraram com aquele nascimento sui generis e os que, como Herodes, o procuraram eliminar imediatamente da história! Uns tiveram medo porque estavam nus, apesar de reinarem em Jerusalém, outros viram a oportunidade única de se revestirem do que de fato conta: dignidade humana, por excelência! Na noite santa, reflita de que lado você está! Então, será Natal!
Manuel Joaquim R. dos Santos é padre na Arquidiocese de Londrina

