Idade não é barreira para o envelhecimento saudável. E a longevidade é, definitivamente, uma conquista de nossos tempos, que deve ser valorizada. Mesmo considerando estudos recentes que projetam redução em cerca de dois anos na expectativa de vida dos brasileiros por conta da pandemia, o que nos faria voltar ao patamar de 2010, fato é que, em uma análise histórica e de longo prazo, tivemos de 1940 para cá um salto de mais de três décadas na nossa expectativa de vida, que passou de 45 anos para quase 77 anos.

A pirâmide etária vem se invertendo no mundo inteiro e, como toda mudança disruptiva, há uma necessidade de adaptação à nova realidade. Diversos fatores estão relacionados ao aumento da expectativa de vida, tais como condições sociais, tratamentos preventivos e os avanços da medicina. Caminha-se para uma frequência cada vez maior de homens e mulheres centenários.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2025 serão aproximadamente 800 milhões de pessoas com idade superior a 65 anos em todo o mundo. No ano de 2050, o número de idosos terá ultrapassado o de jovens. E quais são as implicações dessa nova configuração de sociedade? Diante dessa perspectiva de uma população cada vez mais longeva, torna-se fundamental a ampliação do debate sobre a promoção do envelhecimento saudável.

Se estamos aumentando a quantidade de anos vividos, será que podemos dizer o mesmo sobre a qualidade desses anos? E os impactos do etarismo, o preconceito baseado na idade, na vida dos idosos, com desgastes físicos e mentais? E no sistema de saúde, como se preparar para atender uma população cada vez mais longeva? Esses questionamentos irão nos acompanhar pelos próximos anos e precisam fazer parte das estratégias de mudança para a adaptação da sociedade a essa nova realidade.

Primeiro, é de suma importância desconstruir o estereótipo de que envelhecer significa adoecer. De fato, quanto mais velhos, mais zelo devemos ter pela nossa saúde. Entretanto, a prevenção desde cedo e os cuidados que mantemos ao longo da vida irão impactar de forma significativa a saúde mais tarde. Segundo levantamento do Departamento de Saúde Pública da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Botucatu, no Estado de São Paulo, o tempo de vida é determinado em apenas 25% pelo DNA. Ou seja, para os outros 75% cabe o autocuidado, com a construção de hábitos positivos e mudanças de estilo de vida que podem ser trabalhados de forma individual, visando a um envelhecimento saudável.

As ações de medicina preventiva baseadas no modelo de Atenção Primária à Saúde são as melhores ferramentas para a construção de um estilo de vida que visa às novas expectativas de sociedade. O acesso a todos os tipos de assistência de saúde, desde triagens preventivas de rotina ao atendimento adequado de saúde, com profissionais capacitados, são fundamentais para promover a inclusão na área de saúde e permitir, assim, uma longevidade de qualidade.

Os avanços tecnológicos e, sobretudo, na abordagem da saúde, para uma medicina que acolhe e promove a autoestima e o cuidado, proporcionam à sociedade benefícios que vão muito além de prolongar o tempo de vida. Em uma visão coletiva, essa evolução nos traz um poderoso capital social e intelectual, para uma sociedade cada vez mais intergeracional, inclusiva e plural. O envelhecimento é um assunto de hoje e não deve ficar para amanhã. Devemos abraçar essa conquista tão preciosa em todas as suas possibilidades.

Thais Jorge, diretora da Bradesco Saúde

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