Quando cientistas e astrônomos afirmaram que podemos entender o universo pela matemática e que tudo se explica pela composição e leitura dos números, até pensávamos ser algo significativo. Porém os números voltam à cena, hoje podemos entender que a vida foi reduzida a números. Números de mortos pela Covid -19 números que aparecem nas mídias, números que aparecem nos hospitais, números baixos de vacinas e vacinados. Números de parentes, amigos, pessoas próximas que se formam. E agora os números de novas cepas do vírus e de pessoas mais jovens, inclusive adolescentes e crianças. Números e mais números, a que fomos reduzidos. Vivemos da ingratidão dos números nos assolando, neste último ano todos os dias o dia todo.

Os números nos assustam, os números matam, pelo menos em nossa mente, quando nos lembramos que esses números são pessoas, homens e mulheres das mais diferentes idades que estão nos deixando. Não basta este registro que ficará nos enunciados estatísticos dos órgãos de pesquisa e que com o tempo servirá para uma consulta de um estudante. Este, que possivelmente, teve a perda de um ente e, que nem irá perceber que esse mesmo, está diluído no meio de tantos outros. É lastimável esta constatação, não podemos simplesmente tapar nossos olhos e fechar nossos ouvidos e jogar nossas emoções humanas na latrina. Temos que lutar e acreditar na vida, e a vida plena neste momento é vacina para todos com a sua ação nos espaços de emprego e renda correspondentes.

Para muitos de nós normalizar essa mudança de rotina é algo inaceitável. Considerando que algo poderia ter sido feito desde o inicio para evitar, ou pelo menos minimizar, o atual quadro com uma política pública de saúde séria: planejamento, vacinas, vacinação em massa, e os cuidados sanitários já estabelecidos pelos infectologistas sérios. E por falar em números o que dizer do número de vacinas disponíveis, distribuídas a conta gotas, possibilitando trapaças e desvios de todo tipo, por um único fator, o de não existir vacinas para todos.

Os números crescem e se multiplicam também nas desilusões e desencantamentos da vida e do mundo. Quantos desempregados, quantos subempregados. Quantos que pela perda de ente, ou desemprego, ou subemprego perderam a vontade de viver. Quantas pessoas desesperançosas esta situação gerou.

O Brasil passa a ser o epicentro desses números nefastos. Temos um mandatário que pouco sente e entende de humanismo e empatia, um novo ministro da saúde que, ao que tudo indica, repetirá os mesmos procedimentos e fórmulas do anterior. Isso nos envergonha como nação diante do mundo que busca alternativas sérias, competentes e fundamentadas em estudos e observações científicas e não em achismos, vulgares ideologizados pelo senso comum. Aqueles que desconsideravam tais aspectos, também infelizmente, estão sentindo na carne a perda de seus entes e amigos queridos.

Enquanto maior parte da população, pelo menos 70 %, não for vacinada, não teremos tranqüilidade de volta das atividades que tínhamos até março de 2020. Esse é um fato, que a meu ver, parece incontestável. Vamos deixar de lado ideologias e estupidez e adotar posicionamentos técnico-científicos da melhor linhagem adotada mundo afora.

Gabriel Barbosa Bassani, geógrafo, e Paulo Bassani, sociólogo.