Há indubitavelmente um cansaço no ar. Um elevado nível de saturação das instituições democráticas, desgastadas propositalmente pelo chefe do Executivo. Um projeto. Uma clara intenção de vencer pela fadiga. Pelo desânimo. Uma notória tentativa de, sorrateiramente, minar os leucócitos da nação. E está conseguindo. Dia após dia, mês a mês, não fez nada digno do nome de governo, que não fosse a desconstrução do país. Um desgoverno, com altíssimo preço em vidas e bens, materiais e imateriais.

450 mil mortos; cultura ultrajada e ignorada; ONGs ameaçadas sistematicamente; indígenas expostos a garimpeiros e outros males; florestas ardendo; madeiras exportadas com o carimbo do crime; diplomacia corroída e exposição do país ao ridículo internacional; vacinas recusadas; máscaras no bolso; pobreza galopando solto; fome inundando rincões; STF atacado constantemente; Forças Armadas abduzidas; estatais vendidas; pré-campanha eleitoral à luz do sol, com recursos federais!

Dizem há tempos, os defensores da situação e principalmente do chamado “mito”, que o Brasil não poderá virar uma Venezuela! Ora, excetuando-se a questão geográfica, nunca dela estivemos tão próximos! Todo o processo de corrosão institucional, uso das Forças Armadas e das forças da lei em geral, e o palavreado usual do chefe em exercício, nos assemelham tragicamente ao finado Chaves ou ao seu substituto!

Mas, mais do que tudo isso, o que aponta para a chamada “venezualização” é , até agora, felizmente, gorada tentativa de desmobilizar e desprestigiar a imprensa, com agressões várias. Só no ano passado, foram 430 jornalistas agredidos! Números típicos de regimes totalitários e é claro, do país vizinho! Soma-se o ódio gerado e divulgado a partir de gabinetes, e destilado contra opositores e órgãos de comunicação críticos aos devaneios governamentais.

Um país responsável por 13% das mortes por Covid em todo mundo, com materiais hospitalares escasseando gravemente, incluindo os kits intubação, e a doença correndo o risco de ficar mais agressiva em poucos dias, e o Brasil assiste impávido e sereno ao seu presidente fomentando passeios de moto, provocando aglomerações sem máscara e fazendo desses eventos comícios antidemocráticos!

Há no ar fedor de golpe. No entanto, a presença de Pazuello, general da ativa, no palanque, e 1000 policiais na “segurança”, talvez apontem mais para um motim! Observado à distância, por instituições estupefatas ou quiçá apenas cansadas. O que é uma tragédia nacional.

Contudo, até ao momento, a nossa democracia tem resistido com galhardia aos ímpetos totalitários que a assolam. Com todas as críticas que lhe possamos fazer, devemos ser justos com Supremo Tribunal Federal. Não é por acaso que as hordas bolsonaristas o atacam freneticamente. “Ninguém bate num cachorro morto”, como diria Dale Carnegie.

Com prudência e firmeza, os ministros têm repudiado a baixeza da nossa política. E com isso, obrigado o detentor do cargo a respeitar a Constituição. Porém, acuado, o presidente governa para a minoria, fazendo o barulho que, tal como uma cortina de fumaça, visa nos distrair dos verdadeiros descalabros da política nacional. Leia-se aqui, a criminosa omissão no combate ao coronavírus e a constante e insana alegação de que não “podemos ficar em casa”.

Existem sinais inequívocos de cansaço em todo este processo. Ao vermos países do Norte que fizeram o dever de casa liberarem os seus cidadãos para levarem uma vida normal, inclusive sem o uso de máscaras, necessitamos canalizar a nossa indignação para um roteiro certo. Temperada pela esperança de quem descobre o sentido da vida até num campo de concentração, como o fez o fundador da logoterapia, Vicktor Frankl, essa indignação sadia, justa e oportuna, será o oxigênio que manterá o nosso país vivo. Indignados e jamais revoltados. Críticos e não amargos.

Gigante pela própria natureza e impávido colosso, o Brasil é maior do que os problemas que enfrenta. Mas os brasileiros saberão que os vírus se enfrentam com coragem, ciência, determinação, espírito de coletividade e solidariedade. A vigilância sanitária que tanto nos orgulha na prevenção às doenças, nos inspire para uma constante e incansável guarda de nosso patrimônio democrático.

Padre Manuel Joaquim R. dos Santos, Arquidiocese de Londrina

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