Nos últimos dois anos, a Ciência alcançou grande destaque na mídia nacional, tornando-se manchete nos jornais e nas redes sociais. Dois motivos contribuem para isto: o seu reconhecimento como principal agente no enfrentamento da pandemia, causada pelo SARSCoV-2; e o negacionismo de ocupantes de cargos do governo e daqueles que os seguem.

Este antagonismo nos impôs uma letargia proposital ao enfrentamento da grave pandemia que enfrentamos, levando ao óbito centenas de milhares de pessoas, mesmo com o empenho dos cientistas na produção de vacinas para enfrentar o coronavírus.

Em praticamente um ano, viabilizou-se a produção em larga escala da panaceia tão desejada. Paralelamente, o principal governante de plantão se esforçava para minimizar, se não combater, o protagonismo da ciência, depreciando as universidades públicas e impondo cortes orçamentários aos órgãos de fomento à pesquisa, trabalhando contrariamente ao sentido da razão.

Primeiro, negou a gravidade da pandemia, depois apontou para soluções ineficazes, deu exemplos do que não se deve fazer e, por fim, impôs significativos obstáculos para solução do problema, ou seja, a imunização em massa da população.

O resultado, para além das mortes, escancarou para o resto do mundo a ignorância, a incompetência e o descaso sob os quais os brasileiros estão submetidos. Para reverter este desastre que compreende a gestão da ciência e inovação teremos que retornar aos idos de 1950, quando o Brasil, reconhecendo o protagonismo da educação e da pesquisa para o desenvolvimento civilizatório e o alcance da soberania nacional, implantou o alicerce para termos no país profissionais com alta qualificação e uma rede de apoio e fomento para formação de cientistas e instituições de pesquisa.

Foi a partir deste período que foram criadas, por exemplo, a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), em 1951, o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), também em 1951, a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), em 1967, e uma ampla rede de universidades públicas, hoje ameaçada de suspensão e restrição de suas atividades pela falta de recursos.

Teremos que, além de descontingenciar o FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), criado em 1969, recompor o orçamento das fundações e do órgão de amparo à pesquisa, ampliar seus editais e garantir os recursos humanos e financeiros para as universidades públicas, profundamente afetadas pela Emenda Constitucional 93/16 e pela Lei Complementar 173/20, esta com previsão de vigência até dezembro de 2021.

Armas no chão, teremos que construir um novo pacto, elevando a educação pública e a ciência ao patamar mais alto das prioridades da nação. Só assim, promoveremos, paralelamente, desenvolvimento econômico e social, nos livrando de tanta ignorância, pobreza e mortes.

Ricardo Dias Silva, vice-reitor da UEM (Universidade Estadual de Maringá). Arquiteto e Urbanista pela UEL, doutor em Arquitetura e Urbanismo pela USP.