ESPAÇO ABERTO: 天 皇 陛 下 万 歳
PUBLICAÇÃO
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023
Eduardo Tozzini, advogado
Em 23 de fevereiro o Japão comemora o aniversário do seu 126º Imperador, Naruhito. Sua Majestade é especialista em história medieval japonesa e possui doutorado em Humanidades. Na Constituição japonesa, composta por 11 capítulos e 103 artigos, o Imperador representa o símbolo do Estado e a unidade do povo (artigo 1º), não lhe sendo atribuído, portanto, poderes relacionados ao governo (artigo 4º), os quais competem ao primeiro-ministro (capítulo V, artigos 65 e 66), tal como é na Inglaterra, no Canadá e na Espanha, por exemplo. Essa distinção bem delineada entre o Chefe de Estado (Imperador) e o Chefe de Governo (primeiro-ministro) dá ensejo, de fato, à unidade da nação, ao passo que fortalece a atribuição do Parlamento que, por vocação congrega os variados segmentos da sociedade; sendo assim, eventuais oscilações no cenário político jamais ofuscarão o sentimento de união e patriotismo do povo, pois se encontram protegidos na figura apartidária do Chefe de Estado.
Entre Brasil e Japão há uma sólida e próspera relação de amizade que fica evidente quando temos em conta que aqui está a maior comunidade Nikkei, ou seja, de imigrantes japoneses e seus descendentes, do mundo.
Tamanho prestígio pode se observar no profundo simbolismo da praça Tomi Nakagawa (cidadã honorária do Paraná), este é o nome da última sobrevivente do primeiro navio japonês que chegou ao Brasil, no dia 18 de junho de 1908 (Dia da Imigração Japonesa), após 52 dias em que percorreu quase 12 mil milhas náuticas entre as cidades de Kobe e Santos. Nessa grandiosa praça do Centenário da Imigração Japonesa, com uma área de 9,4 mil metros quadrados, compareceu o então Príncipe herdeiro do Japão, atual Imperador, em 22 de junho de 2008.
O belíssimo projeto foi realizado pela arquiteta Marize Cecato, baseando-se na cultura e na tradição do jardim japonês; assinou a obra o engenheiro Luiz Rogério Venturini. Ali está, inclusive, um esplêndido monumento com mais de 20 metros de altura, projetado pelo artista plástico nipo-brasileiro Yutaka Toyota, em que duas torres cinzas formam, ao meu ver, geometricamente um triângulo isósceles no qual os ângulos da base são congruentes e tocam-se no alto, em perfeita harmonia, formando o imponente ângulo do vértice, e que pelo seu esplendor representam a força milenar do povo japonês, ladeadas por ondas que simbolizam a passagem do tempo, tendo entre elas a representação da proa do secular navio Kasato-Maru.
Cada detalhe desse monumento foi minuciosamente pensado: sua posição faz com que ao amanhecer na praça que honrosamente tem o nome da senhora Tomi Nakagawa, os raios do Sol passem pelo vão decorrente do ângulo das torres e toquem soberanamente a grande pedra que está sobre a proa do navio.
Esse sublime cabedal de significados da cultura japonesa que vem à tona neste momento de saudação ao Imperador, e que harmônica e majestosamente repousa diante de todos nós nesse valioso patrimônio público, não escapa à profunda reflexão sobre aqueles imponentes portais vermelhos, os Torii, que me parecem ser Myojin Torii – 明神鳥居 (pois o lintel superior é ligeiramente curvo para cima), com dois pilares verticais com pequena inclinação e ao topo um lintel horizontal denominado kasagi com tênue curva ascendente e reforçado por outro lintel horizontal, o shimaki): representam a nossa entrada para um espaço sagrado.
Por isso, ao consignarmos nosso sincero e respeitoso cumprimento ao símbolo máximo do Japão, o Imperador, reiteramos nossa admiração e deferência à toda comunidade nipo-brasileira que há mais de século faz parte dos pilares da história política-econômica-social do Brasil. Reitero o título: Tenno Heika Banzai – 天 皇 陛 下 万 歳 – isto é, Longa Vida ao Imperador.
Eduardo Tozzini, advogado
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