Falemos de novo ano e de ano novo na sua essência. Conversemos sobre a estética que pauta o ato de existir e que se coaduna com ética e empatia. Como seria insossa esta vida sem uma boa dose de beleza! Segundo Platão, o belo se identifica com o bom, e toda a estética idealista tem como origem essa noção platônica. Referimo-nos, portanto, à estética e à ética; de mãos dadas, para dar o verdadeiro sabor a esta existência que nos propomos tecer dia após dia, ano após ano. A ética em termos clássicos, não se resume apenas aos hábitos, mas busca a fundamentação teórica para se encontrar um modo agradável e perfeito de se viver. Trata-se de um estilo de vida! O caminho da ética, muito além da moral, habita no castelo onde mora o sentido da própria vida humana. Sentido este, que não se vende nas quitandas, não se aprende na escola e não se adquire a preço de ouro! Tão pouco está encerrado em conceitos religiosos e filosóficos.

Um homem ético é um construtor de si mesmo, lapidando cada vertente do seu caráter, num dinamismo ad aeternum!

Quando nos propomos vivenciar uma renovação que se impõe a cada virada de ano, não nos contentamos com roupagens ilusórias de um verniz superficial, via de regra em função de terceiros! Há que avançar para águas mais profundas, deslumbrando-nos nas estalactites e estalagmites que qualquer descoberta honesta nos proporciona. De fato, tecer a vida humana, é deixar portos seguros para encarar águas revoltas em busca de novas paragens e novas aragens. Quem tem medo fica em casa! Quem tem fobia do desconhecido não avança rumo ao novo que cada ano nos proporciona. O réveillon, neste interim, tem tanto de magia quanto um adeus dado ao longe, à irreversibilidade de uma despedida.

Feliz ano novo é mais do que um desejo. É a aspiração profunda de quem não se contenta com a mediocridade que em geral a vida nos proporciona e é a concretização de uma busca ontológica por algo, que o novo ano também não poderá oferecer. Mas nós somos assim. Convivemos existencialmente com uma intolerância nata ao pouco e ao médio e corremos desenfreados em busca do que nos possa saciar, mesmo que depositemos em novas etapas da vida essa esperança de o conseguir! O incrível de tudo isso, é que mesmo sendo ilusório, funciona! Em parte! O arcabouço psicológico e espiritual do sapiens, está preparado para encontrar bem-estar e certa realização na vivência de mudanças, que embora convencionais, lhe proporcionam uma novidade em forma de motivação. Portanto, não é pecado vibrar com uma mudança de ano!

Contudo, mudar o que e para que? Assim nos diz Paulo, o grande Apóstolo: “Aquele que roubava, não roube mais; pelo contrário, trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com quem está atravessando um período de necessidade. Não saia da vossa boca nenhuma palavra que cause destruição, mas somente a que seja útil para a edificação, de acordo com a necessidade, a fim de que comunique graça aos que a ouvem” (Ef. 4,28-29). Ética é coisa séria. Caráter é forjado pelo fogo. Empatia, é a capacidade de sentirmos com os outros o que eles estão passando ou sentindo. É compaixão! Paixão com! É entender sentimentos; é nos colocarmos no lugar do outro. É altruísmo. É consciência humana em sentido lato. Mudança meu caro leitor, é deixar-se moldar para ser mais humano e adquirir a estética que a sua vida tanto precisa.

Encaremos 2023 com a ética e a estética inerentes a uma vida renovada. 2022 foi um ano para brasileiro esquecer. Não tenha nostalgia do tempo em que você viveu exilado no seu próprio país. Não olhe para trás, senão vira estátua de sal! (Gn19,26). Renove a esperança, pois é com ela que respiramos. Mas que essa esperança não dependa de homens! “Maldito o homem que confia no homem”! (Jr 17,5). Dependa sim d’Aquele que não falha. (Sl30,20)

Feliz Novo Ano!

Padre Manuel Joaquim R. dos Santos, Arquidiocese Londrina