A cada duas horas, aproximadamente, uma pessoa é vítima de acidente nas ruas de Londrina. Em todo o ano passado, 4.049 pessoas ficaram feridas, uma média de 11 por dia. Outras 83 perderam a vida. Os dados fazem parte do balanço anual elaborado pela Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização. Os números do Placar do Trânsito refletem a imprudência que se vê nas ruas. O excesso de velocidade continua o maior vilão. Os registros de carros transitando acima da velocidade permitida somaram 95.846 no ano e o avanço de sinal vermelho e parada sobre a faixa de pedestre renderam 18.664 multas no período. Os flagrantes foram feitos por radares, indicando que os equipamentos não estão conseguindo conter os motoristas. Na comparação com 2017, houve aumento nessas autuações, de 6,51% e 21,38%, respectivamente.

Em entrevista à FOLHA, a arquiteta urbanista especializada em mobilidade urbana, de São Paulo, Meli Malatesta relacionou o comportamento nocivo dos motoristas como uma consequência da falta de políticas públicas para o setor que atendam todos os cidadãos desde a infância. Ela aposta em uma receita que há tempos vem sendo defendida por outros especialistas, mas que nem sempre é colocada em prática: a educação para o trânsito. A inclusão do tema no currículo escolar básico, por meio de uma disciplina, ajudaria os futuros condutores de veículos a entenderem que a rua é um espaço público, de convivência de todos - motoristas, pedestres, ciclistas e motociclistas.

O Brasil avança muito lentamente no pacto que firmou com a Organização das Nações Unidas para reduzir o número de acidentes na chamada "Década de Ação pela Segurança no Trânsito", que compreende o período de 2011 a 2020. Nesse acordo, governos de todo o mundo se comprometeram a tomar novas medidas para prevenir as mortes e ferimentos causados por acidentes de trânsito. Ainda para colocar mais polêmica no assunto, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, tem defendido algumas medidas como a ampliação da validade da Carteira Nacional de Habitação - hoje são cinco anos - e o fim da obrigatoriedade de aulas em autoescolas com simuladores.

É reconhecido que os países que estão conseguindo mudar o trânsito para melhor, como a Espanha, investiram em educação, campanhas de conscientização, melhoria da infraestrutura viária e rigor na fiscalização. Não tem segredo. Se o Brasil quiser honrar o compromisso que firmou com as Nações Unidas terá que fazer o dever de casa.